terça-feira, 10 de abril de 2012

Amazónia Equatoriana


2 a 6 de Outubro

Durante a viagem, mesmo dentro do autocarro, foi notória a transição do clima frio e seco dos Andes para o ar quente e abafado da Amazónia, isto num espaço de cerca de 3h. Chegámos a Tena por volta das 2h da manhã, a cidade estava completamente deserta. Depois de andarmos uns 20 minutos a tocar às campainhas dos hostels a perguntar pelos preços, lá encontrámos um onde estavam dois homens idosos, podres de bebedos, que nos fizeram um bom preço. Aí pernoitámos uma noite, com intenções de seguir para Misahuali no dia seguinte.

 A viagem para Misahuali durou apenas uma hora. É uma vila que se resume a uma oraça com um jardim, onde vivem vários macacos que não param durante todo o dia, e algumas ruelas, cujas estradas são todas de terra batida. A Carolina ficou na praça a guardar as malas na companhia dos macacos, enquanto eu fui procurar um hostel barato. Contudo, os preços ali eram um pouco caros para nós, e portanto, decidi pôr-me a andar por uma ruela, a ver se encontrava algo mais em conta. Depois de caminhar um pouco, cruzo-me com um senhor que me pergunta: "Que buscas?". Este foi o nosso dia de sorte, ele tinha uma vivenda ali perto, com uma cabana para alugar, por um preço muito bom. O melhor disto é que esta cabana era a dez passos do rio Misahuali, coberta de uma vegetação sem fim, com um verde que nunca antes tínhamos visto! Tinhamos chegado à Amazónia. Depois de ver a cabana e o lugar, fiquei maravilhado e ansioso de o mostrar à Carolina. Depois de almoçarmos os três, seguimos para a cabana. A Carolina adorou. Sem dúvida que este lugar onde ficámos os quatro dias fez mesmo a nossa estadia em Misahuali mais especial, era maravilhoso.

Passámos o resto do dia no rio, simplesmente a apreciar a beleza que nos rodeava. No dia seguinte acordámos um pouco tarde. Tínhamos planeado descer o rio que tinha alguns rápidos, em cima de umas boias redondas, actividade que ali era chamada de tubbing. No entanto, o nosso dinheiro tinha acabado, e não havia multibanco em Misahuali, pelo que tivemos de voltar a Tena para levantar dinheiro. É engraçado observar que cada país tem a sua forma de funcionar em certos aspectos, aqui, nos autocarros, quando uma pessoa quer descer, diz "Gracias" e o motorista pára o autocarro em qualquer lugar. Quando chegámos a Misahuali já não dava tempo para muita coisa. Pegámos na comiga e montámos um piquenique à beira-rio, e ali ficámos a passar o resto da tarde. Há muitas actividades que se podem fazer aqui, há tours na selva, onde se conhecem as tribos indígenas, come-se comida típica, anda-se nos barcos deles, pode-se também fazer desportos radicais, etc. Contudo, para nós, observar o rio a correr e o som da água a bater nas rochas, o verde à nossa volta, as cores do céu ao entardecer, os macacos a brincarem na praça, era demasiado bom, e não se tinha de pagar.
Nos dias que se seguiram fizemos um caminhada por um parque ali perto, supostamente o caminho levar-nos-ia a uma cascata, mas quando lá chegámos deparámo-nos com um monte de pedras, a cascata estava seca. Fizemos também o tubbing com um rapaz amigo do senhor que nos alugou a cabana, que nos cobrou uma ninharia, mostrou-nos algumas árvores especiais da zona, e levou-nos a uma cascata e escorregas naturais, foi bastante divertido. Optámos por não fazer a tour à selva, porque de há uns tempos para cá nos apercebemos que estas comunidades indigenas vivem quase apenas do turismo e por isso, nos parecem demasiado "trabalhadas" para o turismo, interessadas em vender tudo e mais alguma coisa, cantar e dançar uma música típica para dizermos "ah, que giro", de modo a sacar o máximo de dinheiro ao gringo, perdendo assim, toda a naturalidade. Se quisermos passar tempo com indigenas a sério, temos que ir mais adentro na selva, mas isso pode levar dias, mas convém ir com alguém que conheça a zona, pois há bastantes animais selvagens, o que sai bastante caro.
Este foi dos lugares onde menos dinheiro gastámos e onde mais gostámos de estar, principalmente pelo estado de paz que aqui atingimos. Teríamos ficado aqui mais tempo, mas tínhamos o nosso voo em Quito no dia seguinte. Entrámos no autocarro rumo a Quito com desejo de voltar um dia.

De volta aos Andes


27 de Setembro a 1 de Outubro

Depois de 9 dias em Montañita regressámos a Guayaquil para seguir para Baños de Ambato no centro do Equador, cidade conhecida pelas lindas cascatas que tem próximas. O primeiro dia em Baños foi dedicado a comunicar a nossa decisão de ficarmos no continente Americano às pessoas de quem gostamos. Algumas reagiram com surpresa, outras com um misto de tristeza alegria, mas no geral todas nos apoiaram e deram-nos força para seguirmos o nosso sonho. Neste dia demos ainda início aos nossos planos para os próximos tempos. A ideia inicial foi apanhar um voo de Bogotá para Cuba, mas o pai do Vitor deu-nos a ideia de conhecermos a América Central, e países que tão cedo não teríamos oportunidade de visitar. Foi mesmo isso que decidimos, apanharíamos depois o voo para Cuba a partir de Cancun, onde já estava planeado encontrarmo-nos com a Guida e o Vasco, que tinham lá férias marcadas para 4 de Dezembro. Fizemos também uma estimativa do dinheiro que ainda tinhamos, e quanto gastariamos diariamente em comida, transporte e alojamento. A partir daqui os gastos teriam de ser ainda mais controlados. Quando o dinheiro estivesse a acabar estava planeado trabalhar por um período de aproximadamente seis meses para juntar dinheiro e seguir viagem. A cidade que então tínhamos em vista era Miami.

O dia seguinte foi ocupado a percorrer uma trilha que existe pelas montanhas que circundam a cidade. De facto, esta é das imagens mais características de Baños: todas as suas montanhas cobertas de vegetação densa.
 Mas a cereja no topo do bolo, ainda iamos descobrir no dia seguinte: as sete maravilhosas cascatas que se estendem ao longo de um percurso que desbravámos de bicicleta. Infelizmente saímos um pouco tarde, e não tivemos de chegar à última onde se podia tomar banho, mas as outras seis valeram bem a pena. Talvez a que nos tenha impressionado mais tenha sido a sexta, baptizada com o nome Pailón del Diablo. Despois de pagar entrada, desce-se uma enorme escadaria, e ficamos mesmo a observar a cascata de muito perto. A água cai com tanta força que ficamos todos salpicados. Já de noite e a pingar (tinha estado de chuva todo o dia), voltámos de camião ao hostel. Um banho quente nunca tinha sabido tão bem.


Nos últimos dois dias, fizemos uma visita ao vulcão Quilotoa, que tem uma lagoa de água azul no interior da sua cratera. Tivemos que apanhar um autocarro até Latacunga, onde almoçámos, e daí apanhar outro até ao vulcão que demorou cerca de 3h. Do lugar onde o autocarro nos deixou até ao topo do vulcão ainda tivemos que caminhar alguns quilómetros, mas o longo percurso desde Baños foi merecido, o vulcão e a lagoa são lindíssimos. Como já era tarde, decidimos pernoitar em Quilotoa. Tivemos direito a lareira no quarto e a um jantar com sopa típica: creme de legumes com pipocas.
Após uma noite bem dormida, descemos desde o topo da cratera do vulcão até à beira da água da lagoa. É, de facto, muito bonito. Recuperámos energias ao almoço e voltámos a Baños para buscar as nossas malas que tinham ficado no hostel, e seguimos para Misahuali, no coração da floresta Amazónica.

Montañita


18 a 26 de Setembro

Chegámos a Montañita pelas 9h da manhã, cheios de sono e sem hostel reservado. À saída do autocarro estava um casal de jovens a perguntar precisamente se já tínhamos onde dormir.
 Este foi dos melhores hostels onde ficámos, as paredes do quarto feitas de uma espécie de bambu, cama de rede na varanda, e um pequeno-almoço incluído bastante bom e completo. Montañita foi mais um destino sugerido por outros viajantes, todos diziam que se íamos para o Equador, tínhamos que visitar esta pequena vila à beira do Pacífico, mais conhecida pela sua vida nocturna animada.

De facto, é um lugar muito catita, as casas, bares e restaurantes todos feitos de madeira e palha, e as pessoas eram muito simpáticas. Nos primeiros dois dias vagueámos pelas ruas e pela praia, infelizmente o tempo estava muito nublado, não muito propício ao típico dia de praia, o que não nos impediu no entanto, de ir à água, que para nós estava até bastante boa.





Foi em Montañita que descobrimos uma das sete maravilhas gastronómicas desta viagem: os gelados mais maravilhosos que alguma vez comemos! No terceiro dia, começámos a explorar algumas das actividades que podíamos fazer por ali. Informámo-nos de quanto custaria ir às Galápagos, mas estava muito fora do nosso orçamento (500 dls a hipótese mais barata). Mais perto ainda está a Isla de la Plata, que é chamada  "Galápagos dos pobres", onde também existem alguma espécies endémicas, e cujo preço era bem mais em conta. Enstávamos bastante inclinados a visitar a Isla de la Plata, quando um rapaz nos propôs que experimentássemos algo diferente. Longe de nós sabermos que iriamos com isto descobrir uma das nossas paixões: mergulho.




"Os peixes que passam diante do teu olhar, a certeza de que a vida existe quando, por um instante, descemos a este mundo submerso que não é o nosso e depositamos o peso que trazemos do mundo que é o nosso e assim nos reconstruímos, porque a água tudo limpa.
Miguel Sousa Tavares"





Nos dias seguintes estivemos simplesmente a relaxar, disfrutando do que Montañita tinha para nos oferecer: praia e noite. No entanto, há que destacar o nosso sexto dia em Montañita. Era dia 2x, e planeávamos o que iamos fazer até ao final da viagem ( 7 de Outubro). Estávamos no primeiro andar do hostel, numa cama de rede virada para a rua, de portátil ao colo, e o ecrã preenchido com o mapa da América do Sul. As duas hipóteses em cima da mesa eram ficar no Equador até ao final da viagem, ou seguir para a Colômbia e Venezuela, e apanhar o nosso voo em Caracas onde fazia escala.          

Foi então que o sentimento acumulado ao longo da viagem, que ambos pensávamos mas não diziamos, veio à superfície. A Carolina virou-se para mim e disse que não queria voltar já, que não fazia sentido, que ainda havia muito por descobrir. Ela teve a coragem de dar o pontapé de saída. Eu, retraí-me. Comecei a rir-me e a dizer que ela estava doida. É óbvio que achei a ideia alucinante, mas algo impossível de ser feito, principalmente porque tinha um mestrado para acabar e o tema da tese acordado com a orientadora, para não falar das saudades que tinha de todos em Portugal. Parecia algo que seria possível num sonho, e não na realidade. No entanto, a Carolina continuou a defender a ideia com seriedade, e quando comecei a fazer-me as questões "Porque não?", "O que tenho a perder e a ganhar?", um sentimento de liberdade apoderou-se de mim, que deitou todos os medos abaixo. Passadas algumas horas de reflexão, disse-lhe que sim com um sorriso de orelha a orelha (ainda que não acreditasse bem no que estava a dizer), fazia-me todo o sentido ficar. Decidimos nesse dia ir jantar para celebrar, uma bela mariscada ao som de música cubana e danças de salsa. Ficou decido então que ficaríamos no Equador até dia 7 de Outubro, nesse dia apanharíamos o nosso voo de regresso, mas em vez de seguirmos para Lisboa aproveitaríamos a escala para caracas e ficaríamos na Venezuela para continuarmos a nossa viagem. Ficámos em Montañita um total de 9 dias, passados de fato-de-banho e chinelos, ao sabor de bons mojitos e na companhia de boas pessoas. Sempre recordaremos este lugar pela descoberta da paixão de fazer mergulho, e também pela viragem que as nossas vidas aqui tiveram.









Entrada no Equador

17 e 18 de Setembro

Depois do episódio desagradável que nos aconteceu na fronteira do Perú para o Equador nada mais nos restou do que seguir viagem. A viagem até Cuenca demorou ainda algumas horas, e acabámos por descobrir que tinhamos ido para lá um pouco ao engano... Queríamos chegar a Baños de Ambato e fomos para Baños de Cuenca, uma pequena vila com águas termais. Valeu bem a pena! Enquanto relaxavamos nas termas, o Vitor recuperou o bom humor, e depois de tantas desventuras soube mesmo bem. Jantámos e dormimos que nem uns anjinhos, e acordámos todos bem dispostos, até descobrirmos que nos faltava a máquina fotográfica. Tinhamo-la visto na mochila antes de atravessar a fronteira, por isso concluímos rapidamente que enquanto tínhamos ido carimbar os passaportes, os burlões a tinham roubado. Mais um dia estragado... Tantas fotografias bonitas perdidas (principalmente as de Machu Picchu)... E agora estávamos sem máquina... Enfim... Iniciámos a viagem para Montañita, com escala em Guayaquil.

Um desvio acidental


17 de Setembro

Normalmente os condutores avisam em que lugar estamos quando fazem uma paragem. Esta vez não foi excepção, o nosso é que estava demasiado pesado. Quando acordámos já tinhamos passado o nosso destino há cerca de uma hora, e estávamos em Tumbes, na fronteira com o Equador. Saímos ainda meio a dormir do autocarro e enquanto recolhíamos as malas da bagageira um senhor disse que nos podia levar de volta até Mâncora, e o preço era bastante bom. Dentro do taxi, estava um colega do motorista, e quando já estavamos dentro do carro prontos para partir, entra outro amigo. Este último era o mais interactivo e simpático, muito interessado em nós e na nossa viagem, fazendo inclusavamente questão de se dirigir a nós pelo nome próprio, este amigo tinha a arte de fazer conversa. Em quase dois meses de viagem na América do Sul, as pessoas tinham sido sempre simpáticas e honestas connosco, e, embora sempre atentos, nunca tínhamos tido razões para desconfiar de ninguém. Portanto, quando este amigo nos disse que dentro de quatro dias ia haver uma manifestação e a que a fronteira ia estar temporariamente fechada (e seria assim impossível passar para o Equador), nós, patinhos, acreditámos. Em menos de 10 minutos dentro do carro, conseguiu convencer-nos a seguir para o Equador (para onde iriamos depois de Mâncora) em vez de voltarmos para trás. Quando finalmente acordámos para a vida, começámos a achar a situação um pouco estranha. Dois macambuzios no carro com três homens que os tinham convencido a mudar de ideias. Bem que podíamos tentar ver pelas placas se nos levavam para o lugar correcto, e então? Estávamos completamente nas mãos deles! Tememos que nos pudessem fazer algo. A caminho, o amigo iamos falando sobre o ambiente na fronteira, dizendo que há bastante tráfico e que é muito perigoso atravessá-la. Quando chegamos, está uma estrutura de madeira a cortar a passagem da estrada, e um polícia a guardá-la. Este diz aos senhores do taxi que não podem passar. O simpático sai do carro, dá-lhe uma prenda, e este abre a passagem. Finalmente, já na fronteira na vila de Águas Verdes, deparamo-nos com um ambiente estranho, mas não propriamente perigoso. Eles param o carro e dizem que são 70 dolares por cada um. Nós ficamos pasmados e dizemos que eles estão loucos e que não podemos pagar esse dinheiro. Eles insistem e dizem que está tudo incluído, o transporte, a segurança e a passagem de autocarro para a cidade destino no Equandor. Parece que toda esta conversa, todo este teatro de ser perigoso, etc., era só um esquema para nos sacarem dinheiro. Depois de muito tentarmos regatear eles disseram que tinha de ser assim, que tínhamos que pagar, e que nos tínhamos de apressar porque não podiam estar ali parados. Não tínhamos aquele dinheiro connosco, e mais uma vez fomos patinhos por não termos a destreza de inventar que não tínhamos dinheiro na conta e que estávamos à espera de uma transferência, ou algo do género. Em vez disso, a Carolina foi com o simpático ao multibanco levantar dinheiro. Mais uma vez se notou o ambiente estranho do lugar, pois para ela poder levantar, o simpático teve de oferecer mais uma prenda ao polícia. Enquanto eu estava no carro à espera, abri o vidro e um deles disse-me para o fechar, que aquilo ali era muito perigoso e era muito arriscado ter o vidro aberto. Por aquela altura já me tinha apercebido da teatrada, mas obedeci. Depois de lhes pagarmos, deixaram-nos com outros dois amigos equatorianos, que nos levaram até ao lugar onde compraríamos o nosso bilhete de autocarro. Comprar? Então não estava incluído? Primeira mentira detectada... Com o bilhete, seguimos para as migrações do Equador, para dar entrada no país. Aí, perguntámos a um senhor se a fronteira era assim tão perigosa, e se era normal pagar-se tanto para atravessá-la. Ele, admirado, disse que não! Que era um lugar tranquilo, e que bastava pagar 4 dolares e atravessá-la de autocarro. Caiu-nos tudo. Era tudo mentira. O senhor, parecia ainda mais perturbado que nós, e sai-se com a frase: "Peruano hijo de puta!", também pensei o mesmo... Apetecia-me mesmo voltar atrás e dar três marteladas na cabeça de cada um. Das várias lições que pudemos tirar daqui, uma delas é nunca aceitar uma viagem ou o que quer que seja sem antes perguntar o preço.

Ruínas Chan Chan



14, 15 e 16 de Setembro


Para chegarmos a Trujillo foi necessário quase um dia e meio de viagem: 22h de Cuzco a Lima, e uma noite de Lima a Trujillo. No Perú estas viagens não são um problema tão grande porque os autocarros são muito confortáveis. De Trujillo deslocámo-nos até Huanchanco, uma vila à beira do Pacífico e deslocada da cidade, onde encontrámos alojamento barato. O principal ponto de interesse eram os sítios arqueológicos em redor da vila, que visitámos no dia seguinte. Comprámos um bilhete geral para as várias ruínas e seguimos de taxi até aos vários pontos... Também é possível fazer este percurso de autocarro, mas além de ser muito mais demorado, os taxis no Perú são muito baratos. A maior parte dos vestígios eram coloridos na altura em que foram erguidos. Actualmente podemos ver os edifícios enormes e os lindíssimos relevos que sobreviveram. As ruínas que mais nos impressionaram foram as de Chan Chan. São extensíssimas e grande parte delas ainda está por escavar. Foi novamente com alguma tristeza que constatámos que se estas ruínas se encontrassem nos EUA seriam famosissímas e estariam todas escavadas. Em Huanchaco aproveitámos ainda para passar pela praia, afinal de contas era a primeira vez que estávamos no Oceano Pacífico. A praia é extensa e a água tem uma tonalidade entre o azul escuro e o cinzento. Durante o nosso passeio apanhámos vários búzios que enviámos mais tarde para Portugal. Um grande mistério que nos deixou bastante intrigados foi a quantidade de animais mortos que apareceram ao longo da costa (um leão marinho, um gato e uma ave). Uma coisa muito típica desta zona do Perú que tivemos oportunidade de ver na praia são os Caballitos de Totora, umas embarcações feitas de uma espécie de palha (Totora), que são usadas pelos nativos para pescar há milhares de anos.


Deste lugar fica-nos também na memória as refeições de peixe e marisco, não muito caras e deliciosas. Servem sempre como entrada uns bagos de milho tostados e salgados e aguçam o apetite para as delícias que se seguem. Nós provámos arroz de marisco, camarões e peixe grelhado. Depois de dois dias em Huanchaco apanhámos o autocarro de volta para Trujillo, de onde seguimos para Mâncora (pensávamos nós!), mas isto são aventuras para o próximo post.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Site da viagem

Aqui fica o site da nossa viagem

www.casanaestrada.com

 onde pretendemos partilhar as nossas experiências e aventuras, e também dicas úteis difíceis de encontrar na internet, que apenas aprendemos graças às vivências dos últimos meses. Estas serão particularmente interessantes para quem estiver interessado em visitar determinado país, ou realizar uma viagem de longo curso, sem gastar muito dinheiro.

Enjoy!


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

1 mês e 18 dias


Tenho aprendido a sorrir mais, a não fazer uma cara tão sisuda quando caminho pelas ruas mas na verdade estou a andar dentro da minha cabeça. Que dos estranhos não esperamos nada, por isso, nestas relações o pouco é muito. E o sorriso de alguém na rua, ou simplesmente uma palmada nas costas enquanto se diz: ânimo, que isto não é fácil têm um poder muito grande, quase tão grande como o quão é difícil explicar este poder. Tenho aprendido a ter saudades com paciência e amor, e não num desespero cego de não conseguir aproveitar o que está à minha volta. Tenho aprendido que às vezes é preciso esquecer e perdoar, e que às vezes é preciso não perdoar e não esquecer, ir para a praça todos os domingos e chorar os filhos que desapareceram sem explicação, erguer muros com poemas de guerra que pedem justiça com os mortos políticos, pintar nas árvores os nomes dos que foram sem razão e ir lá pintá-los outra vez quando alguém tenta apaga-los. Tenho aprendido que temos a capacidade de gostar muito das pessoas, mas também de seguir sem elas, sem rancor, porque pode não dar. E também que somos muito mais fortes do que aquilo que pensamos. Aprendi que comunicamos mais sem palavras do que com elas, e que há um brilho nos olhos que é comum a vários lugares do mundo. Sei que para a próxima, independentemente de tudo, o bilhete é só de ida, que não me quero deixar cair nos lugares comuns da vida. E não faz mal se daqui a dois anos já nada disto for verdade, importa que é verdade agora e que o sinto com todas as partes do meu corpo, com todas as partes do que sou. Aprendi que a seguir da segunda vem a terça e depois e quarta, e que os dias seguem sempre, os bons e os maus. E é tudo uma sucessão, uma sequência. Um respirar fundo antes de entrar na água fria, fechar os olhos, e ir com a maré. Mas ir, ir, ir. E saber que quando aqui falo em aprender, é um aprender muito para além dos livros, é um sentimento muito vincado, muito profundo, que terá sempre as suas marcas.
Até já (:

Carolina

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A cidade perdida dos Incas


Cusco

9 a 13 de Setembro

O primeiro dia em Cusco foi passado a descobrir qual seria a maneira mais barata de chegar a Machu Picchu. A ideia de fazermos a famosa trilha Inca (percurso de 4/5 dias por caminhos feitos pelos Incas) ficou logo de parte, tem que ser reservada com alguns meses de antecedência e custa entre 400 a 500 dólares. Começámos então a averiguar outras maneiras de chegar ao santuário Inca. A mais comum é ir de van até Ollantaytambo, e daí seguir de comboio para Águas Calientes, uma vila a 6km de caminho de Machu Picchu. Contudo, esta opção continuava a ser dispendiosa demais para nós, os comboios são explorados por uma empresa americana, que toma grande partido de este ser o melhor meio de transporte até Águas Calientes, e cobra cerca de 100 dollars por ida e volta, ficando a tour em 180/200 dollars. Descobrimos então que era possível contornar o caminho do comboio e fazer a viagem toda de van, que duraria cerca de 7 horas. Munidos de papel e caneta, corremos muitas das centenas de agências que existem em Cusco, anotando os preços e os detalhes das viagens. Foi interessante reparar que quando colocávamos o papel com os preços das agências anteriores, a seguinte fazia sempre um preço mais baixo. Desta forma, conseguimos que uma agência nos cobrasse 100 dollars por mim, e 80 pela Carolina com cartão de estudante, que incluía o ingresso a Machu Picchu, transporte, dormida e alimentação durante toda a tour, um verdadeiro achado. Descobrimos também que nas redondezas de Cusco existe o Vale Sagrado dos Incas, e que se podia visitar por um preço bem barato, pelo que comprámos também essa excursão.
Obviamente juntámos o útil ao agradável e fomos conhecendo a cidade de Cusco durante esse dia. É uma cidade catita, onde é muito agradável passear, apesar dos constantes "assédios" dos nativos, a tentarem vender seja o que for aos turistas, é demais. A sua arquitectura é muito própria, uma mistura de influências incas e espanholas. O muro da pedra dos 12 ângulos é uma prova disso, onde é possível observar claramente uma parte construída pelos Incas e outra pelos espanhóis. É impressionante constatar o encaixe perfeito do muro Inca, onde não é possível passar um fio de cabelo entre as pedras, ainda que algumas tenham 12 ou mais ângulos, está ainda hoje por explicar o seu método de construção.

No dia seguinte visitámos o Vale Sagrado dos Incas. Este foi um excelente aperitivo para Machu Picchu, pois deu-nos a conhecer um pouco da história da civilização Inca e sua cultura. Além de podermos apreciar as magníficas paisagens, ficámos a saber que:
- A grandeza da civilização Inca resultou da integração de vários povos, e da sua sabedoria e conhecimentos. Ao absorverem o que cada povo tinha de melhor, os Incas conseguiram erguer um império vastíssimo, que se extendeu desde o Sul do Chile até ao Sul da Colômbia;
- Os Incas foram excelentes agricultores. Em vários locais foram encontrados campos de cultivo com vários níveis de altitude, que correspondiam a diferentes microclimas, onde eram produzidos diferentes alimentos. Além disso, construiram sistemas de rega e engenhosos armazéns de argila no topo das montanhas, que permitiam conservarem os alimentos por imenso tempo;
- Todas as construções incas revelam os elevados conhecimentos de engenharia deste povo. Desde os armazéns de comida aos monumentos e templos, todos os edifícios tinham sistemas anti-sismicos, que permitem que ainda hoje estejam de pé.
- A nivel sociológico, os Incas viviam num sistema que é hoje comparado ao socialismo. Todas as pessoas trabalhavam a favor do bem comum. Alguns exemplos desta filosofia são os milhares de homens que se juntavam para trazer blocos de pedras das montanhas para os locais de construção, e a comida que era sempre plantada e recolhida a pensar em todos os habitantes da comunidade.
- Toda a cultura Inca está envolta em vários mistérios, que ainda hoje não conseguimos decifrar. Sabemos que além de exímios engenheiros, agricultores e filósofos, possuiam conhecimentos avançados de astronomia, metalurgia e farmacologia. Com a invasão espanhola, milhares de livros foram queimados e grande parte deste conhecimento perdido.




No dia seguinte, iniciámos a grande viagem para Machu Picchu. Os passageiros a bordo da van era tudo pessoal da nossa idade, "malta pobre", de várias partes do mundo. Facilmente se percebe o porquê, esta era das agências que cobrava mais barato! A primeira parte pôs à prova os estômagos mais fortes, numa viagem pelos Andes que durou 7h! As curvas constantes feitas a uma velocidade surreal, e a estradas estreitas mesmo à beira do precipicio, provocaram uma erupção nos estômagos de alguns passageiros. Felizmente, iamo-nos distraindo com a cassete de dance music dos anos 90 que o condutor fez questão de por durante as longas 7 horas de viagem. Ao longo de quase todo o percurso pudemos também sentir o cheiro emanado pelas plantações de coca, bastante agradável. Terminada esta primeira parte, chegámos a uma central hidroeléctrica, onde nos esperava uma caminhada de 3 horas até Águas Calientes. Com as malas às costas, esta segunda parte pôs à prova a nossa resistência. Chegámos a Águas Calientes um pouco cansados, pousámos as malas no hostel onde ficaríamos essa noite, e andámos mais um pouco até às águas termais da cidade. Aqui pudemos finalmente relaxar um pouco, e livrarmo-nos do frio que tinha estado presente todo o dia. Depois do jantar no hostel, saímos a passear pela vila. É um lugar recheado de restaurantes e hotéis, 100% turístico, por ser a vila mais perto de Machu Picchu. O que lhe confere alguma beleza é o facto de ser atravessada de uma ponta à outra pelo lindíssimo rio Urubamba. Durante o jantar, o nosso guia tinha-nos estado a explicar os planos para o dia seguinte. Há duas maneiras de chegar de Águas Calientes a Machu Picchu, ou a pé, ou de autocarro. Rapidamente colocámos de parte a hipótese de ir de autocarro, por forma a economizar 4 dollars por cada um. De qualquer das formas, a hora combinada em Machu Picchu era às 7 da manhã, e a caminhada durava 2 horas, o que implicava que saíssemos do hostel às 5.



 Não é por estarmos no outro lado do mundo que deixamos de ser tugas e de cumprir os nossos hábitos! No dia seguinte adormecemos e acordámos às 5h20 e picos. Num instante arrumámos tudo e, meio estremunhados, meio excitados, pusemo-nos a caminho de uma das sete maravilhas do mundo moderno. O caminho é todo feito de escadas construídas no meio do mato, um pouco mais íngreme do que imaginávamos. Foi tão cansativo como bonito, à medida que subíamos a paisagem ia ficando mais ampla, e podíamos observar a imensidão de montes que rodeiam Machu Picchu, lindíssimo! Acabámos por demorar apenas cerca de hora e meia na subida, mas ainda assim, atrasámo-nos 15 minutos, e o nosso guia que nos tinha avisado para que fôssemos pontuais, já não estava no lugar combinado. Nesse momento, já só estavamos preenchidos de excitação e curiosidade de ver esse lugar tão bonito, tão falado por todo o mundo, e partimos sozinhos ao seu encontro. Andámos por lá perdidos às voltas uns 20 minutos, mas não víamos nada. Até que perguntámos a um senhor onde ficavam as ruínas. Ele respondeu-nos que estavam mesmo à nossa frente, mas o manto espesso de nevoeiro não possibilitava a sua visão... Um sentimento de desilusão apoderou-se de nós, tanto quilómetro feito, para chegar ao topo e não conseguir ver dois palmos à nossa frente, ainda por cima com uma carga de chuva imensa a cair-nos em cima, que azar! Olhando para mim desolado e numa tentativa de consolo em vão, a Carolina disse com optimismo que isto ia passar e o dia se ia por bonito num instante.

 Foi então que se deu um momento mágico. O vento começou a soprar e o manto espesso de nevoeiro desvaneceu-se gradualmente do céu, abrindo um estreito de visão, que nos permitiu finalmente ver as ruínas de Machu Picchu! Ficámos completamente extasiados, é daqueles momentos dificéis de descrever! Depois de ficarmos 5 minutos imóveis simplesmente a admirar a beleza da paisagem, sacámos da máquina e tirámos fotografias sem conta, antes que o nevoeiro voltasse. Descemos do miradouro e começámos a nossa caminhada por entre as ruínas, onde por sorte, acabámos por encontrar o nosso guia e prosseguir na tour com o nosso grupo.

 Percebemos então que Machu Picchu tinha sido um santuário habitado sobretudo por sacerdotes, construído durante cerca de 100 anos sob as ordens do mais famoso imperador Inca, Pachacuti, e inacabado, devido à chegada dos espanhóis. O mais curioso é que este nunca foi descoberto pelos espanhóis, pois os Incas simularam a fuga para o vale sagrado, de modo a desviar a atenção sobre Machu Picchu, que apenas foi oficialmente descoberto e apresentado ao mundo em 1911, por um explorador norte-americano. Oficialmente, porque o local já era conhecido pelos nativos há muito tempo. Depois de terminada a visita guiada, tínhamos mais 2 ou 3 horas livres para passear por Machu Picchu, e assim o fizemos. Deambulámos por todos os caminhos possiveis, conhecendo cada canto deste lugar maravilhoso. Bastava disparar o botão da máquina para que saisse uma fotografia belíssima. Infelizmente não nos restaram muitas, pois mais à frente na viagem a nossa máquina foi roubada, e com ela, todas as fotos de Machu Picchu. Passados alguns minutos do meio dia, dissemos adeus a este belo lugar, e    iniciámoscaminho de retorno a Cusco.

O dia seguinte era de viagem, mas ficámos no quarto até final da tarde, a recuperar forças. Despedimo-nos da cidade de Cusco com um belo jantar de comida típica, ao som de uma banda de música andina, que por sinal era bastante boa. Chegados ao terminal, decidimos mudar os nossos planos de viagem. Supostamente iríamos para Paracas, onde há um parque natural com pinguins, mas informaram-nos que não era tão fácil chegar lá como pensávamos, pelo que decidimos na hora viajar antes para Lima e daí para Trujillo, mais a norte do Perú, onde existem as ruínas Chan Chan, fica para o próximo post!


domingo, 5 de fevereiro de 2012

Canyon Colca


Arequipa

6 a 8 de Setembro

Chegámos a  Arequipa já de noite. Ao apanharmos um táxi para o hostel tivémos contacto com um dos trânsitos mais loucos de sempre. Nos cruzamentos não há regras, os carros simplesmente vão avançando até terem um espacinho para passar, é tudo ao molho e fé em deus! O que é certo é que não presenciámos nenhum acidente. Depois de jantarmos voltámos ao hostel, onde um grupo de espanhóis de Las Palmas nos convidou a sentar na mesa com eles, e a compartir a sua cerveja. Ali ficámos à conversa pela noite fora. Lembro de nos contarem que tinham provado um animal que nunca tinham comido antes, que se vendia nas ruas, e que tinha garras e os dentes de fora! Depois de algumas tentativas de descrições, lá chegámos à conclusão que era o porquinho da índia. É, parece que no Perú este animal, para nós doméstico, é servido frito!
O pequeno-almoço (que tornar-se-ia uma constante ao longo de todo o Perú) foi servido com pão, manteiga e marmelada, e umas folhas de coca para misturarmos com água quente, o que resulta num chá delicioso. Este dia foi dedicado apenas a conhecer a cidade de Arequipa, uma cidade com um centro histórico engraçado, mas nada do outro mundo. No entanto, descobrimos que a partir desta cidade havia uma excursão ao Colca Canyon, famoso pela sua profundidade e condors que nele habitam. Reservámos no hostel a tour para o dia seguinte, que seria de dois dias. No mercado tivemos a oportunidade de comprar alguma fruta e outros alimentos a baixo preço, e de seguida comer uma enorme sandes de leitão, preparada à peruano, com o leitão em fatias pequeninas misturado com vegetais e com um molho delicioso. Isto tudo enquanto conversávamos com um senhor peruano, muito simpático e educado, que a meio da conversa me perguntou se eu era de Espanha, ao que lhe respondi que não, mas que levei como um elogio (parece que desde Buenos Aires o meu espanhol evoluiu bastante!). À noite decidimos que no dia seguinte adiaríamos o nosso vôo para Outubro, pois o tempo estava muito apertado para conhecer o Perú e Ecuador (país onde apanharíamos o nosso vôo de regresso) com calma.
Começámos o dia com o telefonema para a eDreams, e adiámos o vôo para 7 de Outubro, pois a minha mãe fazia anos dia 8. Passado uns minutos, o guia passou no hostel a buscar-nos. Este foi um dos melhores guias que apanhámos, durante a excursão mostrou-se sempre muito pró-activo e foi-nos dando informações sobre curiosidades bastante interessantes sobre a região de Arequipa, e também do Perú:

o Perú é um país com apenas 6% de superfície plana, com bastante diversidade e onde o turismo está muito desenvoldido, 8 em cada 10 familias peruanas vivem desta actividade;

Arequipa, para além de cidade, é também uma grande região do país onde se prolonga a cordilheira dos Andes, possui 110 vulcões e ocorrem 3 sismos por dia. Alguns dos vulcões estão activos e o material das erupções é aproveitado para o fabrico de cimento, cobre, ouro e prata. O deserto de Atacama extende-se desdo Chile até Arequipa. É também nesta região que nasce o rio Amazonas;

ao contrário do que se pensa, apenas (embora devesse ser menos) 32% da coca no Perú é para droga, é também utilizada para chá, rebuçados, biscoitos;

nos Andes o fogo faz-se com uma planta que cresce acima dos 4500 metros, chama-se jareta. Aqui o modo de vida das pessoas é bastante diferente, vivem a grandes altitudes e  bastante isoladas, o tipo de comércio é troca por troca, entre as famílias que vivem perto umas das outras. Devido ao frio, e às grandes distâncias que têm de percorrer diariamente para chegarem à escola, 400 crianças morreram de pneumonia, num ano. Os professores são bem pagos para ensinar nestas escolas, mas muitos deles não estão dispostos a isso, pois implica mudarem radicalmente a sua vida.

A meio do caminho parámos para observar três espécies de animais que predominam nos Andes, as alpacas, os lamas e as vicunhas. Antes da chegada dos espanhóis os indios chamavam aos lamas outro nome que não nos recordamos, mas quando os espanhóis lhes perguntavam "Como se llama?" eles diziam "Llama?!", e então ficou assim o nome de "llama". Juntamente com as alpacas, o pêlo destas duas espécies é usado para fazer casacos, e também se come a sua carne, esta é aliás a fonte de rendimento de muitas famílias andinas. Por outro lado, a vicunha é uma espécie em vias de extinção, e a pena de cadeia pode ir até aos três anos, a quem mate uma. Seguidamente, parámos num lugar onde o nosso guia nos aconselhou a beber chá de coca, devido à altitude que iríamos enfrentar (acima dos 4000 metros), pois este oxigena o sangue. Depois de chegarmos à pequena vila onde íamos dormir e pousarmos as malas, fomos para umas termas que nos souberam pela vida, depois de todo o frio, deu para aquecer e relaxar! À noite disfrutámos de um bife de alpaca ao som de música andina, e danças tradicionais.
Levantámo-nos muito cedo e fomos então visitar o Colca Canyon. A caminho parámos em algumas vilas, onde havia muita artesania à venda, e onde os locais tentavam sacar o máximo de dinheiro aos turistas. Numas das vilas havia um grupo de meninos a dançar com roupas típicas andinas. Engraçado referir que estive algum tempo a observá-los e reparei que apenas dançavam quando passava algum turista... Depois de algum tempo dirigi-me a um deles e perguntei se não andava na escola, ele respondeu "Sim, entro às 8.".

Finalmente chegámos ao famoso Colca Canyon, o mais profundo do mundo, com 4160 metros de altitude. É de facto uma paisagem maravilhosa, ampla, de uma beleza incrível! Ali tinham habitado civilizações pré-incas. Neste local, pudémos também observar uma ave de rapina também em vias de extinção, o Condor! É um animal belíssimo que dá gosto de observar, praticamente não dá às asas, apenas plana! Horas de almoço, parámos num restaurante caro demais para o dinheiro que tínhamos levado. Dissémos ao nosso guia que nos encontrávamos mais tarde, pois não podíamos almoçar ali, ao que ele nos responde que pudemos perfeitamente almoçar ali, o restaurante é de buffet, serve-se primeiro um, depois o outro, e pagam um! Mesmo à tuga, óbvio que foi isso que fizémos!
Regressados à cidade de Arequipa, deslocámo-nos até ao terminal, onde mais uma vez se ouve pessoas a gritar por todos os lados as vendas dos bilhetes, uma loucura. Comprámos a nossa passagem para Cusco, antiga capital do império Inca, e cidade mais perto do Machu Picchu. Ao entrarmos no autocarro ficámos completamente espantados. Aquilo mais parecia um avião que um autocarro. Havia comissários de bordo que antes da "descolagem" explicaram as regras de segurança e indicaram as portas de emergência, acompanhadas com um vídeo descritivo, que passou nas várias televisões espalhadas ao longo do autocarro. Os assentos eram bastante confortáveis, quase como uma cama, e houve também direito a uma refeição. Verificaríamos que isto seria também uma constante ao longo do Perú, os autocarros são de muito boa qualidade. E ainda bem, porque as viagens são longuíssimas. Para já, espera-nos uma de aproximadamente 12 horas!



quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ilhas Flutuantes


4 e 5 de Setembro de 2011

Depois de carimbar a saída da Bolívia e a entrada do Perú no passaporte, chegámos a Puno já à noite. Logo no terminal reservámos o bilhete para irmos para Arequipa no dia seguinte depois do almoço, e seguimos para o hotel. Estávamos tão cansados que nem fomos jantar, comemos só uma sandes de atum e fomos dormir. O dia seguinte começava cedo!
Às oito da manhã estávamos de pequeno almoço tomado na recepção do hotel, e passado meia hora lá nos vieram buscar para que fossemos conhecer as famosas Ilhas Flutuantes, no Lago Titicaca, que além da Bolívia também banha o Perú.
Após chegar ao porto fomos num barco até às ilhas, e sentámo-nos em roda no chão para ouvirmos um pouco da história e da formação deste lugar. As ilhas são feitas de blocos de terra, cobertos de uma espécie de palha típica da região, a totora, que flutuam sobre a água, e têm umas cordas que os prendem ao chão para que não vão com a corrente. São cerca de 20 pequenas ilhas, e nelas há escola, hospital e casas, as pessoas deslocam-se entre elas em barcos, também construídos com totora.



Aqui pudemos também conhecer a cultura dos Uros, que habitam a ilha. São muito simpáticos e atenciosos, especialmente no que toca à venda de produtos artesanais aos turistas. Mais tarde viemos a perceber que grande parte do rendimento destas ilhas provem do turismo, e que talvez por isto sejam tão empenhados nestas vendas. Depois de conhecer esta primeira ilha visitámos uma outra, onde havia viveiros com peixes, uma mercearia e uma escola primária. O Vitor jogou futebol com alguns dos seus habitantes e tirámos imensas fotografias.

De regresso a Puno, tivemos ainda tempo de almoçar e de ir a uma barbearia para o Vitor cortar o cabelo. Para chegar ao terminal de autocarro, apanhámos um mototaxi, meio de transporte que nunca tinhamos experimentado. Como o nome indica, é uma espécie de mota com uma cabine atrás que leva duas pessoas, e tem também uma plataforma atrás onde leva a bagagem. Depois foi só esperar pelo autocarro e seguir viagem!
Em breve damos notícias de Arequipa,

Abraços.

sábado, 14 de janeiro de 2012

A Ilha do Sol


2 a 4 de Setembro

Os autocarros para Copacabana partem de La Paz. Contudo, esta van que apanhámos em Sorata deixaría-nos em Huarina, uma cidade que fica a meio caminho e onde também é possível apanhar o autocarro para Copacabana. Escusávamos deste modo, de retornar a La Paz propositadamente. Huarina resumia-se a uma estrada com algumas casas com tijolo a descoberto. Quando lá chegámos já eram quase 19h00, era de noite, e a estrada estava deserta. Depois de andarmos um pouco encontrámos uma mercearia que estava aberta, e perguntámos ao senhor se ainda passavam autocarros para Copacabana. Disse-nos que já tinha passado o último e que o próximo era no dia seguinte, por volta das 7 da manhã. Perguntámos se sabia de algum lugar em que pudessemos ficar a dormir, ele disse que tinha um quarto disponível na casa dele, e que poderíamos passar lá a noite por 20 bolivianos (cerca de 2 euros). Visto o único estabelecimento aberto das redondezas ser aquela mercearia, comprámos-lhe uns bolos e um sumo, para termos algo que jantar! A casa do senhor era também daquelas de tijolo a descoberto, o quarto era o segundo andar, a porta dava directamente para a rua e não fechava, havia uns colchões no chão nos quais estendemos os nossos sacos cama e nos deitámos a ver um filme.




No dia seguinte acordámos às 6. A casa-de-banho era ao pé do galinheiro, e a sanita era um buraco no chão. Arrumámos as coisas e metemo-nos na estrada à espera do autocarro, que acabou por chegar passados uns 40 minutos. Aqui tomámos contacto com (mais) uma realidade nova, a venda nos autocarros. Mais tarde perceberíamos que esta é uma constante nos países americo-latinos. Vende-se de tudo, bebidas, comida, vitaminas, medicamentos, acessórios de telemóveis, calendários, maquilhagem, etc. Ao principio pensámos que o motorista recebesse alguma comissão, mas parece que não, é um hábito cultural. A meio do caminho tivémos de sair do autocarro e apanhar um barco para atravessar um bocado do lago Titicaca, enquanto que o autocarro o atravessou em cima de uma plataforma de madeira, movida por um motor.
Ao chegarmos a Copacabana, estava um senhor à beira do autocarro que nos perguntou se tínhamos hostel reservado, dissemos que não, perguntámos o preço e fomos com ele. O quarto não era muito bonito, mas a dormida era baratíssima (3 euros por noite o quarto). Esta foi uma política que assumimos desdo início da viagem, procurar sempre tudo mais barato, desde a dormida, restaurante, transporte, supermercado até à lavagem de roupa , o que por vezes é chato e exige tempo e paciência, mas que nos permite poupar dinheiro para as actividades que vamos fazendo.
Depois de nos alojarmos, decidimos que passaríamos esse dia em Copacabana, e que no dia seguinte iríamos então visitar a ilha do Sol, uma das mais conhecidas no lago Titicaca. Este lago é um dos maiores da América do Sul, não só em tamanho, mas também em beleza. Procurámos em várias agências os preços e condições das tours, e acabámos por encontrar uma que nos cobrou 28 euros pela tour à ilha do Sol, transporte de Copacabana para Puno (já no Perú), uma tour às ilhas flutuantes que lá se encontram, transporte de Puno para Arequipa e ainda uma lavagem de roupa! Fantástico! Ainda por cima este preço pelos dois! Ocupámos o resto do dia a passear. A cidade é pequena, muito turística, com imensas bancas na rua de recordações, uma igreja enorme, e um porto todo catita, cheio de barcos de madeira coloridos. Pelo fim da tarde, lanchámos num café muito bonito, todo feito de madeira. Nele, o Vitor falou com os pais no skype e carregou no facebook mais algumas fotografias da nossa aventura. Acábamos por jantar lá mesmo, e provar uma das melhores refeições da viagem: porco agridoce! Talvez também tenha sido tão boa porque enquanto estavamos a comer, passou a Estrela da Tarde como música de fundo no restaurante. Ficámos completamente abismados. Quando tentámos regressar ao hostel já eram quase onze, e o edifício estava completamente fechado, sem sequer uma campainha onde pudessemos tocar. Depois de muito tempo a bater à porta lá conseguimos que nos deixassem entrar e descansar um pouco.




O dia seguinte começou cedo, por volta das 7h. Deixámos as nossas malas na agência que nos vendeu a tour e seguimos para o porto, onde tomámos o pequeno-almoço que já tinhamos comprado na véspera: sumo de pêssego e pão com queijo. Depois de mais de duas horas no barco, atracámos na parte norte da ilha do Sol, e fizemos a primeira parte da visita com um guia que nos mostrou um pequeno museu. Levou-nos ainda até a uma pedra sagrada e umas ruínas da civilização pré-inca que tinha habitado a ilha. É curioso apontar que ainda hoje os descendentes dessas civilizações fazem festas sagradas na ilha e sacrifícios de animais. Por volta das 13h, o guia levou algumas pessoas de barco para a parte sul da ilha , e deixou os mais aventureiros a fazer um passeio a pé, que durava três horas e nos levaria igualmente à parte sul da ilha. Demos as nossas últimas moedas ao guia que implorou por uma gorjeta (como iamos para o Perú nessa tarde, não nos convinha que sobrassem bolivianos) e seguimos. Foi um passeio muito bonito, onde novamente pudemos disfrutar do contacto com a natureza e da ausência de poluição. Apesar do Sol forte e da falta de protector, ficámos deslumbrados com o azul da água e as paisagens que nos rodeavam. O Vitor não se cansou de tirar fotografias. No entanto, aguardáva-nos uma pequena surpresa, que pôs à prova os nossos skills portugueses de saber desenrascar. A ilha era povoada por várias comunidades indigenas, que cobravam uma pequena quantia aos caminhantes com o intuito de preservar a ilha. Nós não tinhamos um único centavo, e voltar para trás era completamente inviável, porque o barco já tinha partido. Lá fomos explicando a nossa situação, e implorando que nos deixassem passar. Todos nos foram deixando seguir viagem, com mais ou menos resistência, e sempre advertindo que na próxima comunidade não nos deixariam seguir. A verdade foi que conseguimos atravessar toda a ilha e estar a horas no barco para o regresso! Depois de um lanchinho e uma ida à farmácia para comprar um medicamento para o Vitor que estava com uma gengivite, despedimo-nos da Bolívia e apanhámos o autocarro para o Perú.