terça-feira, 10 de abril de 2012

Um desvio acidental


17 de Setembro

Normalmente os condutores avisam em que lugar estamos quando fazem uma paragem. Esta vez não foi excepção, o nosso é que estava demasiado pesado. Quando acordámos já tinhamos passado o nosso destino há cerca de uma hora, e estávamos em Tumbes, na fronteira com o Equador. Saímos ainda meio a dormir do autocarro e enquanto recolhíamos as malas da bagageira um senhor disse que nos podia levar de volta até Mâncora, e o preço era bastante bom. Dentro do taxi, estava um colega do motorista, e quando já estavamos dentro do carro prontos para partir, entra outro amigo. Este último era o mais interactivo e simpático, muito interessado em nós e na nossa viagem, fazendo inclusavamente questão de se dirigir a nós pelo nome próprio, este amigo tinha a arte de fazer conversa. Em quase dois meses de viagem na América do Sul, as pessoas tinham sido sempre simpáticas e honestas connosco, e, embora sempre atentos, nunca tínhamos tido razões para desconfiar de ninguém. Portanto, quando este amigo nos disse que dentro de quatro dias ia haver uma manifestação e a que a fronteira ia estar temporariamente fechada (e seria assim impossível passar para o Equador), nós, patinhos, acreditámos. Em menos de 10 minutos dentro do carro, conseguiu convencer-nos a seguir para o Equador (para onde iriamos depois de Mâncora) em vez de voltarmos para trás. Quando finalmente acordámos para a vida, começámos a achar a situação um pouco estranha. Dois macambuzios no carro com três homens que os tinham convencido a mudar de ideias. Bem que podíamos tentar ver pelas placas se nos levavam para o lugar correcto, e então? Estávamos completamente nas mãos deles! Tememos que nos pudessem fazer algo. A caminho, o amigo iamos falando sobre o ambiente na fronteira, dizendo que há bastante tráfico e que é muito perigoso atravessá-la. Quando chegamos, está uma estrutura de madeira a cortar a passagem da estrada, e um polícia a guardá-la. Este diz aos senhores do taxi que não podem passar. O simpático sai do carro, dá-lhe uma prenda, e este abre a passagem. Finalmente, já na fronteira na vila de Águas Verdes, deparamo-nos com um ambiente estranho, mas não propriamente perigoso. Eles param o carro e dizem que são 70 dolares por cada um. Nós ficamos pasmados e dizemos que eles estão loucos e que não podemos pagar esse dinheiro. Eles insistem e dizem que está tudo incluído, o transporte, a segurança e a passagem de autocarro para a cidade destino no Equandor. Parece que toda esta conversa, todo este teatro de ser perigoso, etc., era só um esquema para nos sacarem dinheiro. Depois de muito tentarmos regatear eles disseram que tinha de ser assim, que tínhamos que pagar, e que nos tínhamos de apressar porque não podiam estar ali parados. Não tínhamos aquele dinheiro connosco, e mais uma vez fomos patinhos por não termos a destreza de inventar que não tínhamos dinheiro na conta e que estávamos à espera de uma transferência, ou algo do género. Em vez disso, a Carolina foi com o simpático ao multibanco levantar dinheiro. Mais uma vez se notou o ambiente estranho do lugar, pois para ela poder levantar, o simpático teve de oferecer mais uma prenda ao polícia. Enquanto eu estava no carro à espera, abri o vidro e um deles disse-me para o fechar, que aquilo ali era muito perigoso e era muito arriscado ter o vidro aberto. Por aquela altura já me tinha apercebido da teatrada, mas obedeci. Depois de lhes pagarmos, deixaram-nos com outros dois amigos equatorianos, que nos levaram até ao lugar onde compraríamos o nosso bilhete de autocarro. Comprar? Então não estava incluído? Primeira mentira detectada... Com o bilhete, seguimos para as migrações do Equador, para dar entrada no país. Aí, perguntámos a um senhor se a fronteira era assim tão perigosa, e se era normal pagar-se tanto para atravessá-la. Ele, admirado, disse que não! Que era um lugar tranquilo, e que bastava pagar 4 dolares e atravessá-la de autocarro. Caiu-nos tudo. Era tudo mentira. O senhor, parecia ainda mais perturbado que nós, e sai-se com a frase: "Peruano hijo de puta!", também pensei o mesmo... Apetecia-me mesmo voltar atrás e dar três marteladas na cabeça de cada um. Das várias lições que pudemos tirar daqui, uma delas é nunca aceitar uma viagem ou o que quer que seja sem antes perguntar o preço.

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