sábado, 14 de janeiro de 2012

A Ilha do Sol


2 a 4 de Setembro

Os autocarros para Copacabana partem de La Paz. Contudo, esta van que apanhámos em Sorata deixaría-nos em Huarina, uma cidade que fica a meio caminho e onde também é possível apanhar o autocarro para Copacabana. Escusávamos deste modo, de retornar a La Paz propositadamente. Huarina resumia-se a uma estrada com algumas casas com tijolo a descoberto. Quando lá chegámos já eram quase 19h00, era de noite, e a estrada estava deserta. Depois de andarmos um pouco encontrámos uma mercearia que estava aberta, e perguntámos ao senhor se ainda passavam autocarros para Copacabana. Disse-nos que já tinha passado o último e que o próximo era no dia seguinte, por volta das 7 da manhã. Perguntámos se sabia de algum lugar em que pudessemos ficar a dormir, ele disse que tinha um quarto disponível na casa dele, e que poderíamos passar lá a noite por 20 bolivianos (cerca de 2 euros). Visto o único estabelecimento aberto das redondezas ser aquela mercearia, comprámos-lhe uns bolos e um sumo, para termos algo que jantar! A casa do senhor era também daquelas de tijolo a descoberto, o quarto era o segundo andar, a porta dava directamente para a rua e não fechava, havia uns colchões no chão nos quais estendemos os nossos sacos cama e nos deitámos a ver um filme.




No dia seguinte acordámos às 6. A casa-de-banho era ao pé do galinheiro, e a sanita era um buraco no chão. Arrumámos as coisas e metemo-nos na estrada à espera do autocarro, que acabou por chegar passados uns 40 minutos. Aqui tomámos contacto com (mais) uma realidade nova, a venda nos autocarros. Mais tarde perceberíamos que esta é uma constante nos países americo-latinos. Vende-se de tudo, bebidas, comida, vitaminas, medicamentos, acessórios de telemóveis, calendários, maquilhagem, etc. Ao principio pensámos que o motorista recebesse alguma comissão, mas parece que não, é um hábito cultural. A meio do caminho tivémos de sair do autocarro e apanhar um barco para atravessar um bocado do lago Titicaca, enquanto que o autocarro o atravessou em cima de uma plataforma de madeira, movida por um motor.
Ao chegarmos a Copacabana, estava um senhor à beira do autocarro que nos perguntou se tínhamos hostel reservado, dissemos que não, perguntámos o preço e fomos com ele. O quarto não era muito bonito, mas a dormida era baratíssima (3 euros por noite o quarto). Esta foi uma política que assumimos desdo início da viagem, procurar sempre tudo mais barato, desde a dormida, restaurante, transporte, supermercado até à lavagem de roupa , o que por vezes é chato e exige tempo e paciência, mas que nos permite poupar dinheiro para as actividades que vamos fazendo.
Depois de nos alojarmos, decidimos que passaríamos esse dia em Copacabana, e que no dia seguinte iríamos então visitar a ilha do Sol, uma das mais conhecidas no lago Titicaca. Este lago é um dos maiores da América do Sul, não só em tamanho, mas também em beleza. Procurámos em várias agências os preços e condições das tours, e acabámos por encontrar uma que nos cobrou 28 euros pela tour à ilha do Sol, transporte de Copacabana para Puno (já no Perú), uma tour às ilhas flutuantes que lá se encontram, transporte de Puno para Arequipa e ainda uma lavagem de roupa! Fantástico! Ainda por cima este preço pelos dois! Ocupámos o resto do dia a passear. A cidade é pequena, muito turística, com imensas bancas na rua de recordações, uma igreja enorme, e um porto todo catita, cheio de barcos de madeira coloridos. Pelo fim da tarde, lanchámos num café muito bonito, todo feito de madeira. Nele, o Vitor falou com os pais no skype e carregou no facebook mais algumas fotografias da nossa aventura. Acábamos por jantar lá mesmo, e provar uma das melhores refeições da viagem: porco agridoce! Talvez também tenha sido tão boa porque enquanto estavamos a comer, passou a Estrela da Tarde como música de fundo no restaurante. Ficámos completamente abismados. Quando tentámos regressar ao hostel já eram quase onze, e o edifício estava completamente fechado, sem sequer uma campainha onde pudessemos tocar. Depois de muito tempo a bater à porta lá conseguimos que nos deixassem entrar e descansar um pouco.




O dia seguinte começou cedo, por volta das 7h. Deixámos as nossas malas na agência que nos vendeu a tour e seguimos para o porto, onde tomámos o pequeno-almoço que já tinhamos comprado na véspera: sumo de pêssego e pão com queijo. Depois de mais de duas horas no barco, atracámos na parte norte da ilha do Sol, e fizemos a primeira parte da visita com um guia que nos mostrou um pequeno museu. Levou-nos ainda até a uma pedra sagrada e umas ruínas da civilização pré-inca que tinha habitado a ilha. É curioso apontar que ainda hoje os descendentes dessas civilizações fazem festas sagradas na ilha e sacrifícios de animais. Por volta das 13h, o guia levou algumas pessoas de barco para a parte sul da ilha , e deixou os mais aventureiros a fazer um passeio a pé, que durava três horas e nos levaria igualmente à parte sul da ilha. Demos as nossas últimas moedas ao guia que implorou por uma gorjeta (como iamos para o Perú nessa tarde, não nos convinha que sobrassem bolivianos) e seguimos. Foi um passeio muito bonito, onde novamente pudemos disfrutar do contacto com a natureza e da ausência de poluição. Apesar do Sol forte e da falta de protector, ficámos deslumbrados com o azul da água e as paisagens que nos rodeavam. O Vitor não se cansou de tirar fotografias. No entanto, aguardáva-nos uma pequena surpresa, que pôs à prova os nossos skills portugueses de saber desenrascar. A ilha era povoada por várias comunidades indigenas, que cobravam uma pequena quantia aos caminhantes com o intuito de preservar a ilha. Nós não tinhamos um único centavo, e voltar para trás era completamente inviável, porque o barco já tinha partido. Lá fomos explicando a nossa situação, e implorando que nos deixassem passar. Todos nos foram deixando seguir viagem, com mais ou menos resistência, e sempre advertindo que na próxima comunidade não nos deixariam seguir. A verdade foi que conseguimos atravessar toda a ilha e estar a horas no barco para o regresso! Depois de um lanchinho e uma ida à farmácia para comprar um medicamento para o Vitor que estava com uma gengivite, despedimo-nos da Bolívia e apanhámos o autocarro para o Perú.

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