sábado, 14 de janeiro de 2012

Dos 2800 aos 4300


31 de Agosto a 2 de Setembro

Chegados ao terminal de La Paz, enquanto um senhor nos acabava de dizer que só havia transporte para Sorata dali a umas horas, passa uma van que ia precisamente para Sorata. Passámos as nossas malas ao condutor que estava no cimo da van. Ele encaixou-as lá de uma maneira xpto, sem corda, sem nada. Perguntámos-lhe se as malas estavam seguras desta forma, ao que ele respondeu positivamente, com confiança! Obviamente não ficámos descansados, e fomos durante as três horas de viagem , por turnos, olhando para a parte de trás da van, para confirmar que nenhuma das malas caía e ficava pelo caminho. Viajar na Bolívia é muito bonito, a maior parte da área do país está acima dos 3000 metros de altura,sendo assim possível disfrutar de paisagens extraordinárias. Ainda na viagem La Paz - Sorata, mais adiante, deixámos de andar sobre uma estrada de alcatrão, e começou a estrada de terra batida, que se foi estreitando cada vez mais. A estrada mudou, mas o estilo de condução nem por isso! Através do vidro conseguíamos ver o precipicio que se formava à beira da estrada, o que para o condutor não parecia fazer qualquer diferença, uma vez que a sua condução continuava louca, chegou mesmo a ter de fazer marcha atrás por uma das rodas sair para fora da estrada...deixámos de nos preocupar tanto com as malas, e começámos a temer pelas nossas vidas! No entanto, tudo correu bem, chegámos inteiros, assim como as nossas malas, embora com um pouco de poeira. Mais tarde descobriríamos que a estrada de que falava é uma das mais perigosas do mundo.



A vila de Sorata resume-se a uma praça e algumas ruelas à volta, rodeadas de enormes cadeias montanhosas, que segundo nos informámos, são bastante boas para fazer caminhadas. Fomos à única agência de turismo da vila para saber quanto custava um guia. Aqui começou o desenvolvimento das nossas capacidades de negociação, quando ao ouvirmos o preço, perguntámos ao senhor se nos podia dispensar um mapa das montanhas, e que caminharíamos sozinhos. Ele prontamente disse que seria perigoso, que nos perderíamos e acabou por baixar o preço quase para metade. Seria uma caminhada de dois dias (ida e volta), uma subida dos 2800 aos 4300 metros, onde dormiríamos em tendas.



No dia seguinte acordámos cedo, pegámos na mochila que continha o essencial, encontrámo-nos com o guia, e abalámos. A nós juntou-se uma mula que levaria os alimentos necessários, e um cão sem dono que também decidiu vir passear. Estava portanto formada, a irmandade do anel! Logo ao principio, quando estava a tirar uma foto que apanhava uma senhora campesina, esta fez-me rigidamente um sinal para que não a fotografasse. O guia era também um campesino duma vila ali perto da Sorata, e à medida que íamos andando e disfrutando da maravilhosa paisagem, ele ía-nos falando das vilas ali à volta, e do modo de vida dos agricultores da Bolívia. Pensar que há um dia estávamos numa cidade com um movimento infernal torna-se até uma ideia estranha, se existe na Bolívia oposto a La Paz, esse oposto será Sorata, contacto puro com a natureza,  um ar que nos delicia e que dá vontade de respirar, nos momentos de não diálogo, o único som que se ouve é o dos nossos passos, e o de uma brisa a bater nas árvores,uma sensação enorme de paz. A meio da caminhada já tínhamos passado por inúmeras biforcações, apercebemo-nos que de facto, fizémos bem em vir com um guia, pois seria muito fácil perdermo-nos pelas montanhas, dada a nossa inexperiência. O factor altura tem bastante influência na respiração, pelo que às 18h00, quando chegámos por fim ao lugar onde passaríamos a noite, estávamos de rastos. Era um pequeno descampado, com algumas casas a cerca de 400 metros, nas quais uns meninos nos tinham pedido doces enquanto passávamos, parece que é hábito os caminhantes levarem-lhes doces, mas essa parte escapou-nos. Montámos as tendas, uma para nós outra para o guia, ajudámo-lo a fazer o jantar e ficámos à conversa até que o frio falasse mais alto. Devido à ausência de poluição luminosa, era possível disfrutar de um céu estrelado como nunca antes tinha visto! A noite ali ganha outra dimensão, estamos a 4300 metros, no meio de nenhures, onde se pode ouvir uivos distantes, sem iluminação, com uma pessoa que conhecemos no próprio dia e que pode fazer de nós o que quiser. A cabeça começa a andar a mil à hora e apercebemo-nos do quanto vulneráveis estamos num lugar daqueles, à noite. Pensamentos que me ocurreram, mas que achei por bem não partilhar na altura com a Carolina. Durante a noite, acordo com a Carolina a agarrar-se a mim, em pânico! Ouviam-se uns passos lá fora, o coração começou a palpitar. Seria o guia? Seria alguém? Seria um animal? Francamente, não dava para perceber, o medo falava mais alto. Tentei manter a calma e não lhe transmitir que estava igualmente em pânico como ela, e enquanto a minha pulsação estava a mil, susurrei-lhe baixinho que estava tudo bem, que não se passava nada. Contudo os passos não paravam, e depois de ter demorado alguns minutos a ganhar coragem, abri a tenda para ver o que se passava. Era a mula, que não parava de um lado para o outro. Dá vontade de rir, mas acreditem que foi um grande susto do qual não nos esqueceremos tão cedo! A manhã seguinte começou com um acordar também inesquecível. De um lado tínhamos o sol a nascer entre duas montanhas, e do outro as nuvens, que estavam ao nosso nível, indiscritível! Lavámos os dentes e tomámos um pequeno-almoço típico boliviano, preparado pelo guia, uma papa de aveia quentinha com passas e maçã cozida, ao sabor de toda a bela paisagem que nos rodeava.
 Iniciámos a volta a Sorata, onde chegaríamos por volta das 13h00. Tinhamos nos nossos planos deixar a vila nesse dia. Exaustos, ficámos ainda indecisos e ponderámos ficar em Sorata mais um dia para descansar, mas lá ganhámos coragem e às 16h00 metemo-nos na van rumo a Copacabana, cidade banhada pelo famoso Lago Titicaca!










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