quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

As rosas de Atacama


25 a 28 de Agosto
Quando de manhã acordámos no autocarro, o ecrã da temperatura marcava 6 graus abaixo de zero, os ouvidos estavam entupidos e tinhamos à nossa volta uma paisagem inesquecível, montanhas, lagos e neve: os Andes.
Se houve coisa que aprendemos durante esta viagem, foi que passar fronteiras por via terrestre tem a sua ciência, ainda mais aqui que não há União Europeia. Desta vez o problema foi a manga e a cebola que trazíamos na mala. Acabámos por ter que deixá-las no controlo de bagagem, uma vez que o Chile não permite a entrada de frutos e vegetais para proteger a agricultura do país.
Chegámos a São Pedro de Atacama 14h depois  de termos entrado no autocarro, e mal estávamos preparados para os três dias fabulosos que iríamos viver nesta pequena vila no norte do Chile, que se sustenta essencialmente através do turismo e da extracção de lítio do deserto.
Nessa mesma tarde pusemos de lado o cansaço da viagem e fomos visitar o deserto de Atacama, que é todo feito de sal, e os vales da lua e da morte. A elevada concentração de arsénio no sal impede que este seja utilizado enquanto recurso, uma vez que o processo de purificação é bastante caro. Neste deserto, encontrámos paisagens deslumbrantes, tiram até a respiração. Já no fim da visita pudemos desfrutar de um por do sol lindíssimo ao sabor de uma bebida típica dos Andes, o pisco sagué. Para terminar, descemos a pé uma duna com 400 metros. Durante esta descida, a nossa máquina fotográfica teve direito a um banho de areia que se revelaria fatal...
Já desde o Brasil que a frase "vai custar muito quando regressarmos Portugal, voltar para a rotina, aulas, mestrado..." tinha sido evocada algumas vezes, por ambos. Conhecer pessoas que estavam a viajar há um ano ou mais, tinha-se tornado rotina. As experiências que íamos trocando com viajantes foram-nos criando um bichinho, era uma vida de descoberta, de não rotina, de sentir que todos os dias valiam a pena, demasiado aliciante, tentadora!  A Carolina já tinha pensado na possibilidade de não voltarmos a Portugal, mas achou que seria demasiado extremo, pelo que, nesse dia propôs que adiássemos a data do nosso vôo: em vez de voltarmos dia 20 de Setembro, voltaríamos algures do meio de Outubro. A ideia soou-me bem, mas ficou meio no ar.
O dia seguinte começou muito cedo, por volta das 3h30 da manhã, quando acordámos para ir visitar os geysers e fumarolas no interior de um vulcão extinto, enquanto assistiamos ao nascer do sol. Estavam menos 18º e toda a roupa que levámos pareceu pouca, no entanto foi uma experiência fantástica. Estas formações geológicas permitiram também que aí se criassem umas termas naturais, e a tremer de frio lá tirámos a roupa e entrámos na água quentinha. Sair é que foi pior!
Depois do almoço, visitámos a laguna Cejar, que à semelhança do Mar Morto, tem uma concentração de sal elevadíssima que nos permite flutuar naturalmente. Depois de sairmos tivémos até de tomar um banho de água doce, porque tinhamos imenso sal agarrado à pele. Mais uma vez, assistimos a um por-do-sol que jamais vamos esquecer, uma vez que à medida que o sol se foi pondo toda a cordilheira dos andes foi mudando de cor, desde um vermelho-alaranjado até um castanho-escuro.
Chegámos a casa muito cansados, cozinhar e tomar banho pareceram autênticas odisseias. Adormecemos assim que caímos na cama, por volta das 19h, e acordámos para mais um dia em cheio. Este começou com uma visita a uma reserva natural onde podiam ser observadas três espécies de flamingos. Foi a um destes bichinhos que a nossa máquina tirou a sua última fotografia. O dia seguiu com uma caminhada pela laguna Miscanti, a mais de 4000 metros de altura. Estava rodeada de neve, e a própria água estava em gelo, o que adicionou uma magia especial à paisagem. Pela tarde, visitámos uma aldeia andina, na qual almoçámos, e descobrímos que ali mesmo no deserto, está a ser desenvolvido um recente projecto científico, chamado "ALMA". Resulta da colaboração dos EUA, Ásia, Europa e Chile, e tem como objectivo construir o mais moderno observatório espacial do mundo.


 Chegámos ao hostel por volta das 18h, e tratámos de arrumar toda a bagagem, fazer o jantar e seguir para o terminal de autocarros. Viajámos para Antofagasta, com a intenção de seguir para o Sul da Bolívia. Mas os nossos planos saíram trocados, em Antofagasta só era possível viajar para o sul da Bolívia no dia seguinte, e para evitar passar uma noite ali, optámos por apanhar um autocarro para Arica (mais a noite do Chile) que partia dentro de 10 minutos, donde também havia autocarros para a Bolívia, e desta forma, passar a noite no autocarro. Este foi certamente um dos despertares mais inesquecíveis da viajem. Abro os olhos, vejo uma série de pessoas à minha volta, algumas acordadas, outras ainda a dormir. Depois de demorar alguns segundos até me lembrar onde estava, olho através do vidro e vejo um sol forte, ainda a metade, debaixo dele estão umas formações brancas parecidas com algodão, sem interrupções, que servem de ponte entre as altas montanhas. Não parecia real, estávamos mesmo dentro de um autocarro que viajava ao nível das nuvens! Obviamente quis partilhar este momento com a Carolina e  acordei-a para que saboreasse também esta maravilhosa paisagem. Ela respondeu com um "Ah, que bonito!".


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