sábado, 14 de janeiro de 2012

Um lugar diferente


28 a 30 de Agosto

Neste momento da viagem, eu o Vitor já tinhamos percebido que estavamos a gostar cada vez mais de visitar pequenas cidades, lugares naturais, e a evitar as grandes cidades. Por isso, a nossa ida a La Paz foi um pouco acidental, motivada pelo facto de em Arica só se poder viajar para esta cidade na Bolívia. Uma vez que os nossos planos eram seguir para o Perú, optámos por não visitar o sul da Bolívia como tínhamos pensado, nomeadamente o salar de Uyuni e Potosi (onde é possível conhecer a realidade do povo mineiro), pois isso implicaria voltar para trás em relação ao Perú. Fomos para a Bolívia completamente à descoberta, sem qualquer expectativa.
Depois de 24h em autocarros e já sem posição para estar, deparamo-nos com a primeira visão desta capital.  A cidade fica protegida pelas montanhas que se encontram ao seu redor, a 3400 metros de altitude, repleta de casas de tijolo a descoberto, que se estendem por quilómetros e quilómetros sem fim. Foi interessante explorar esta paisagem, uma vez que primeiro pudemos observar toda a cidade de La Paz do alto das montanhas, e depois fomos descendo gradualmente até ao terminal de autocarros, desbravando esta selva urbana, tão inacreditável e pouco familiar. Chegados ao terminal, deparámo-nos com um ambiente de loucos, inúmeras pessoas, cada uma na sua bilheteira a gritar repeditamente o nome do destino para o qual vendia bilhetes, surreal! Rapidamente percebemos que o acaso que nos levou a La Paz tinha valido a pena, por nos permitir contactar com uma realidade muito diferente da nossa.


Uma vez encontrado o hostel, descobrimos que ir ao supermercado e cozinhar era muito mais caro que ir a um restaurante. Começaram aqui as minhas férias da cozinha, que se prolongariam mais do que poderia imaginar. Tal como as refeições, começámos a descobrir que tudo na Bolívia era muito mais barato que na Argentina, Brasil, Chile e Uruguai, aqui aproveitámos para comprar algumas lembranças!


O dia seguinte foi ocupado a passear pela cidade. La Paz é uma cidade em constante burburinho, repleta de vans a abarrotar de pessoas, mercadores de rua a quem se pode comprar tudo o que se pode imaginar e onde a respiração é dificultada pela altitude e os elevados níveis de poluição. As pessoas têm uma fisionomia muito diferente da nossa, claramente marcada por veia mais indigena (pele mais escura, olhos rasgados, cabelos escuros, homens sem barba, e uma estatura baixa com uma caixa toráxica ampla, adaptada à altitude). Outra coisa que caracteriza muito os Bolivianos são os seus trajes típicos, principalmente nas mulheres, que vestem saias compridas, coloridas e rodadas, e andam sempre com um chapéu preto no topo da cabeça. Ter um carro próprio na Bolívia é um luxo a que poucos se podem dar, por isso as ruas são preenchidas por uma confusão de transportes públicos, onde os assistentes dos motoristas gritam os destinos pela janela e que param em qualquer lado porque não há paragens, o que joga a favor dos passageiros que podem sair onde quiserem, basta dizerem "parada!". Percebemos também que o povo Boliviano era mais fechado que aqueles com que tinhamos contactado até então, e que as casas inacabadas com tijolo a descoberto, que dominam a cidade, pagam muito menos impostos que uma casa pintada. Sentimos que conhecer La Paz acabou por marcar um pouco a saída do mundo europeu a que tanto estávamos habituados, e do qual havia vestígios em todos os lugares que tinhamos visitado até então.


O último dia em La Paz foi dedicado às ruínas de Tiwanaku, uma civilização pré-inca que ainda estão a ser escavadas e que em muito contribuiu para o alto nível de conhecimento inca. Sabe-se desta civilização que foram época homens e mulheres altos, pelo tamanho dos degraus das suas escadas. Tiveram contacto com populações de outros continentes (mesmo antes da colonização espanhola), facto testemunhado por várias esculturas e retratos da época que retratavam pessoas de diferentes fisionomias. Dominaram ciências como a astronomia, a física (sobretudo na área de propagação do som) e minerologia, e construiram complexos sistemas de escoamento de água. Aliaram significados espirituais às suas construções, principalmente às suas estátuas sagradas e templos, repletos de simbolos e gravuras. Foi com alguma tristeza que constatámos que, se estas ruínas se encontrassem na Europa ou nos EUA, já estariam completamente escavadas, estudadas e transformadas numa enorme atracção turística. Durante esta excursão, descobrímos que a Bolívia, apesar de ter o triplo da área de Portugal, tem apenas 10 milhões de habitantes, que a par do espanhol também se fala Aimará, uma língua de origem indigena, e que a maior parte das pessoas vivem da agricultura ou do trabalho mineiro.
No último dia apanhámos uma van que nos levaria a Sorata, uma pequena aldeia conhecida pelas caminhadas que lá é possível fazer. Mal estávamos preparados para a aventura que nos esperava, e que segue no próximo post.
Beijinhos!

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