quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A cidade perdida dos Incas


Cusco

9 a 13 de Setembro

O primeiro dia em Cusco foi passado a descobrir qual seria a maneira mais barata de chegar a Machu Picchu. A ideia de fazermos a famosa trilha Inca (percurso de 4/5 dias por caminhos feitos pelos Incas) ficou logo de parte, tem que ser reservada com alguns meses de antecedência e custa entre 400 a 500 dólares. Começámos então a averiguar outras maneiras de chegar ao santuário Inca. A mais comum é ir de van até Ollantaytambo, e daí seguir de comboio para Águas Calientes, uma vila a 6km de caminho de Machu Picchu. Contudo, esta opção continuava a ser dispendiosa demais para nós, os comboios são explorados por uma empresa americana, que toma grande partido de este ser o melhor meio de transporte até Águas Calientes, e cobra cerca de 100 dollars por ida e volta, ficando a tour em 180/200 dollars. Descobrimos então que era possível contornar o caminho do comboio e fazer a viagem toda de van, que duraria cerca de 7 horas. Munidos de papel e caneta, corremos muitas das centenas de agências que existem em Cusco, anotando os preços e os detalhes das viagens. Foi interessante reparar que quando colocávamos o papel com os preços das agências anteriores, a seguinte fazia sempre um preço mais baixo. Desta forma, conseguimos que uma agência nos cobrasse 100 dollars por mim, e 80 pela Carolina com cartão de estudante, que incluía o ingresso a Machu Picchu, transporte, dormida e alimentação durante toda a tour, um verdadeiro achado. Descobrimos também que nas redondezas de Cusco existe o Vale Sagrado dos Incas, e que se podia visitar por um preço bem barato, pelo que comprámos também essa excursão.
Obviamente juntámos o útil ao agradável e fomos conhecendo a cidade de Cusco durante esse dia. É uma cidade catita, onde é muito agradável passear, apesar dos constantes "assédios" dos nativos, a tentarem vender seja o que for aos turistas, é demais. A sua arquitectura é muito própria, uma mistura de influências incas e espanholas. O muro da pedra dos 12 ângulos é uma prova disso, onde é possível observar claramente uma parte construída pelos Incas e outra pelos espanhóis. É impressionante constatar o encaixe perfeito do muro Inca, onde não é possível passar um fio de cabelo entre as pedras, ainda que algumas tenham 12 ou mais ângulos, está ainda hoje por explicar o seu método de construção.

No dia seguinte visitámos o Vale Sagrado dos Incas. Este foi um excelente aperitivo para Machu Picchu, pois deu-nos a conhecer um pouco da história da civilização Inca e sua cultura. Além de podermos apreciar as magníficas paisagens, ficámos a saber que:
- A grandeza da civilização Inca resultou da integração de vários povos, e da sua sabedoria e conhecimentos. Ao absorverem o que cada povo tinha de melhor, os Incas conseguiram erguer um império vastíssimo, que se extendeu desde o Sul do Chile até ao Sul da Colômbia;
- Os Incas foram excelentes agricultores. Em vários locais foram encontrados campos de cultivo com vários níveis de altitude, que correspondiam a diferentes microclimas, onde eram produzidos diferentes alimentos. Além disso, construiram sistemas de rega e engenhosos armazéns de argila no topo das montanhas, que permitiam conservarem os alimentos por imenso tempo;
- Todas as construções incas revelam os elevados conhecimentos de engenharia deste povo. Desde os armazéns de comida aos monumentos e templos, todos os edifícios tinham sistemas anti-sismicos, que permitem que ainda hoje estejam de pé.
- A nivel sociológico, os Incas viviam num sistema que é hoje comparado ao socialismo. Todas as pessoas trabalhavam a favor do bem comum. Alguns exemplos desta filosofia são os milhares de homens que se juntavam para trazer blocos de pedras das montanhas para os locais de construção, e a comida que era sempre plantada e recolhida a pensar em todos os habitantes da comunidade.
- Toda a cultura Inca está envolta em vários mistérios, que ainda hoje não conseguimos decifrar. Sabemos que além de exímios engenheiros, agricultores e filósofos, possuiam conhecimentos avançados de astronomia, metalurgia e farmacologia. Com a invasão espanhola, milhares de livros foram queimados e grande parte deste conhecimento perdido.




No dia seguinte, iniciámos a grande viagem para Machu Picchu. Os passageiros a bordo da van era tudo pessoal da nossa idade, "malta pobre", de várias partes do mundo. Facilmente se percebe o porquê, esta era das agências que cobrava mais barato! A primeira parte pôs à prova os estômagos mais fortes, numa viagem pelos Andes que durou 7h! As curvas constantes feitas a uma velocidade surreal, e a estradas estreitas mesmo à beira do precipicio, provocaram uma erupção nos estômagos de alguns passageiros. Felizmente, iamo-nos distraindo com a cassete de dance music dos anos 90 que o condutor fez questão de por durante as longas 7 horas de viagem. Ao longo de quase todo o percurso pudemos também sentir o cheiro emanado pelas plantações de coca, bastante agradável. Terminada esta primeira parte, chegámos a uma central hidroeléctrica, onde nos esperava uma caminhada de 3 horas até Águas Calientes. Com as malas às costas, esta segunda parte pôs à prova a nossa resistência. Chegámos a Águas Calientes um pouco cansados, pousámos as malas no hostel onde ficaríamos essa noite, e andámos mais um pouco até às águas termais da cidade. Aqui pudemos finalmente relaxar um pouco, e livrarmo-nos do frio que tinha estado presente todo o dia. Depois do jantar no hostel, saímos a passear pela vila. É um lugar recheado de restaurantes e hotéis, 100% turístico, por ser a vila mais perto de Machu Picchu. O que lhe confere alguma beleza é o facto de ser atravessada de uma ponta à outra pelo lindíssimo rio Urubamba. Durante o jantar, o nosso guia tinha-nos estado a explicar os planos para o dia seguinte. Há duas maneiras de chegar de Águas Calientes a Machu Picchu, ou a pé, ou de autocarro. Rapidamente colocámos de parte a hipótese de ir de autocarro, por forma a economizar 4 dollars por cada um. De qualquer das formas, a hora combinada em Machu Picchu era às 7 da manhã, e a caminhada durava 2 horas, o que implicava que saíssemos do hostel às 5.



 Não é por estarmos no outro lado do mundo que deixamos de ser tugas e de cumprir os nossos hábitos! No dia seguinte adormecemos e acordámos às 5h20 e picos. Num instante arrumámos tudo e, meio estremunhados, meio excitados, pusemo-nos a caminho de uma das sete maravilhas do mundo moderno. O caminho é todo feito de escadas construídas no meio do mato, um pouco mais íngreme do que imaginávamos. Foi tão cansativo como bonito, à medida que subíamos a paisagem ia ficando mais ampla, e podíamos observar a imensidão de montes que rodeiam Machu Picchu, lindíssimo! Acabámos por demorar apenas cerca de hora e meia na subida, mas ainda assim, atrasámo-nos 15 minutos, e o nosso guia que nos tinha avisado para que fôssemos pontuais, já não estava no lugar combinado. Nesse momento, já só estavamos preenchidos de excitação e curiosidade de ver esse lugar tão bonito, tão falado por todo o mundo, e partimos sozinhos ao seu encontro. Andámos por lá perdidos às voltas uns 20 minutos, mas não víamos nada. Até que perguntámos a um senhor onde ficavam as ruínas. Ele respondeu-nos que estavam mesmo à nossa frente, mas o manto espesso de nevoeiro não possibilitava a sua visão... Um sentimento de desilusão apoderou-se de nós, tanto quilómetro feito, para chegar ao topo e não conseguir ver dois palmos à nossa frente, ainda por cima com uma carga de chuva imensa a cair-nos em cima, que azar! Olhando para mim desolado e numa tentativa de consolo em vão, a Carolina disse com optimismo que isto ia passar e o dia se ia por bonito num instante.

 Foi então que se deu um momento mágico. O vento começou a soprar e o manto espesso de nevoeiro desvaneceu-se gradualmente do céu, abrindo um estreito de visão, que nos permitiu finalmente ver as ruínas de Machu Picchu! Ficámos completamente extasiados, é daqueles momentos dificéis de descrever! Depois de ficarmos 5 minutos imóveis simplesmente a admirar a beleza da paisagem, sacámos da máquina e tirámos fotografias sem conta, antes que o nevoeiro voltasse. Descemos do miradouro e começámos a nossa caminhada por entre as ruínas, onde por sorte, acabámos por encontrar o nosso guia e prosseguir na tour com o nosso grupo.

 Percebemos então que Machu Picchu tinha sido um santuário habitado sobretudo por sacerdotes, construído durante cerca de 100 anos sob as ordens do mais famoso imperador Inca, Pachacuti, e inacabado, devido à chegada dos espanhóis. O mais curioso é que este nunca foi descoberto pelos espanhóis, pois os Incas simularam a fuga para o vale sagrado, de modo a desviar a atenção sobre Machu Picchu, que apenas foi oficialmente descoberto e apresentado ao mundo em 1911, por um explorador norte-americano. Oficialmente, porque o local já era conhecido pelos nativos há muito tempo. Depois de terminada a visita guiada, tínhamos mais 2 ou 3 horas livres para passear por Machu Picchu, e assim o fizemos. Deambulámos por todos os caminhos possiveis, conhecendo cada canto deste lugar maravilhoso. Bastava disparar o botão da máquina para que saisse uma fotografia belíssima. Infelizmente não nos restaram muitas, pois mais à frente na viagem a nossa máquina foi roubada, e com ela, todas as fotos de Machu Picchu. Passados alguns minutos do meio dia, dissemos adeus a este belo lugar, e    iniciámoscaminho de retorno a Cusco.

O dia seguinte era de viagem, mas ficámos no quarto até final da tarde, a recuperar forças. Despedimo-nos da cidade de Cusco com um belo jantar de comida típica, ao som de uma banda de música andina, que por sinal era bastante boa. Chegados ao terminal, decidimos mudar os nossos planos de viagem. Supostamente iríamos para Paracas, onde há um parque natural com pinguins, mas informaram-nos que não era tão fácil chegar lá como pensávamos, pelo que decidimos na hora viajar antes para Lima e daí para Trujillo, mais a norte do Perú, onde existem as ruínas Chan Chan, fica para o próximo post!


1 comentário:

  1. Vocês foram roubados dentro da Citadela em MP ou em Cuzco, ou na trilha?
    Que cuidados develops tomar para que o mesmo não nos aconteça?

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