27 de Julho
Quando finalmente o Vítor percebeu que não
estávamos mais em Lisboa, deu um salto da cama e foi a correr para o banho. Foi
um óptimo primeiro dia, em que percorremos as ruas de Buenos Aires sem qualquer
destino, coisa que eu adoro fazer para sentir os cheiros, ver as pessoas e as
luzes das cidades que ainda não conheço. Desde logo percebemos que Buenos Aires
é um lugar de contrastes, onde se vê todo o tipo de gentes e culturas, onde as
arquitecturas antigas se misturam com grandes painéis virtuais de publicidade e
onde muitas ruas têm cerca de seis faixas de trânsito em cada sentido! Deliciámo-nos
também com a simpatia de todos os que encontrámos, e concluímos que, por certo,
tínhamos chegado à terra da boa-fé. Na noite de hoje conhecemos ainda dois compositores
novos, no Teatro Colón. Seguindo as pistas que o meu pai me deu, reservei ainda
em Portugal dois bilhetes e resolvi fazer a surpresa de aniversário ao Vítor. O
teatro é magnífico, com seis andares de camarotes de veludo vermelho e madeira
dourada. Depois de mais um passeio regressamos ao nosso hostel, marcados por um
sentimento de êxtase e entusiasmo. Afinal de contas, estamos do outro lado do
Oceano, a dormir numa cidade fantástica da qual ainda tanto temos para
conhecer. Nem parece real.
1 de Agosto
Conhecemos a cidade de Buenos Aires da melhor maneira que se pode conhecer qualquer lugar, caminhando. Partindo do bairro de San Telmo, e seguindo o mapa, visitámos tanto zonas pobres como o bairro La Boca, onde as casas são coloridas e onde o comércio de rua abunda, como zonas ricas, das quais é um exemplo Puerto Madero onde podemos disfrutar da bela paisagem dos altos edifícios reflectidos na água da marina, ambas de igual encanto. Nesta última tivemos a oportunidade de saborear uma carne deliciosa no restaurante Sorrento, recomendado pelo pai da Carolina. Passados uns dias, apercebo-me de uma falha nos preparativos para esta viagem, curso básico de espanhol! É verdade, pensei que seria mais fácil. De cada frase entendo vinte por cento do que as pessoas dizem, o que vale é que a Carolina entende o suficiente para nos desenrascarmos! Enfim, isto há-de melhorar…
Como na maioria dos países que passaram por este tipo de regime, a ditadura na Argentina deixou marcas. Marcas essas que o povo ainda hoje faz questão de não esquecer. Todos os Domingos as mães dos 30 000 desaparecidos juntam-se na Plaza de Mayo para chorarem a perda dos seus filhos. Está em construção um museu sobre a ditadura no local de uma antiga prisão, onde muitas pessoas desapareceram.
Finalmente,
o que mais nos encantou em Buenos Aires, o tango. É algo mágico, indiscritível,
tem que ser visto com os próprios olhos. Nunca havemos de esquecer a noite em
que fomos à milonga “A Catedral”, onde todas as pessoas, desde velhos a novos,
se levantavam das cadeiras para dançarem o tango, ao som da banda. Fenomenal,
como é possível existir tanta telepatia, uma troca de pernas e um encaixe tão
perfeito? Está-lhes no sangue! É incrível que uma dança possa transmitir tanta
sedução e respeito ao mesmo tempo. É possível sentir a tensão que se cria, e
que de seguida se alivia, uma mistura de amargo e doce, tão nítido que quase
conseguimos imaginar uma história.
Algumas curiosidades. Na Argentina o Ensino Superior público não é pago, os transportes públicos são financiados pelo estado e por isso bastante baratos (1 viagem de metro custa 20 cêntimos). Num Sábado véspera de eleições em que fomos sair à noite, a zona de Palermo, supostamente com vida nocturna activa, estava praticamente morta. Isto porque o dia seguinte era de eleições e assim sendo a vende de álcool é proibida.
Despedimo-nos de Buenos Aires com um passeio pela bonita
zona verde da Recoleta. Das 15 viagens de metro que comprámos apenas utilizámos
6, deixámos as restantes para o staff do nosso hostel. Rumámos então ao
terminal do BuqueBus, para fazer a nossa primeira viagem no continente sul
americano, que por sinal, seria uma travessia ao rio Plata, rumo ao Uruguai,
Colónia Sacramento.
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