sábado, 3 de dezembro de 2011

Cataratas do Iguaçu

21 e 22 de Agosto

Só não levei o Vitor ao colo desde o aeroporto até ao hostel porque não conseguia, estava mesmo doentinho. Depois de nos instalarmos, deixei o Vitor a dormir e fui comprar tudo para fazer uma canja. Nunca tinha feito nenhuma, mas mãos à obra, que quando é preciso, é preciso! Umas horinhas depois, lá consegui que o Vitor comesse alguma coisa sem vomitar, os medicamentos já deviam estar a fazer efeito!
No dia seguinte, ele acordou um bocadinho melhor, e combinámos que se não vomitasse a canja do almoço, à tarde iamos visitar as cascatas! É preciso explicar que estas cascatas têm dupla nacionalidade, uma vez que uma parte delas se encontra no Brasil e outra na Argentina. O lado que visitámos nesse dia foi o brasileiro, o outro previmos visitar no dia seguinte. Foi maravilhoso, é impossível explicar aqui a dimensão e a beleza das cascatas. O parque está muito bem preservado, com percursos desenhados para poder observar toda aquela água a cair. Até ficámos molhados! É incrível como nos sentimos tão pequenos ao lado de tamanha maravilha.  Depois de uma tarde rodeados de natureza, voltámos ao hostel, onde uma surpresa nada agradável nos esperava.
Depois do jantar, começo a sentir-me muito mal disposta, parecia que todos os sintomas do Vitor tinham passado para mim. Depois de pensarmos um pouco, lembrámo-nos que desde que tinhamos chegado, andávamos a beber água da torneira. Nunca nos sentimos tão estúpidos, toda a gente nos tinha avisado para não o fazermos... Mas quando chegámos tinhamos muita sede, e a funcionário do hostel disse-nos que podíamos beber. Enfim... No dia a seguir não me mexia, e acábamos por ter que passar a manhã na cama. Lá se foi a visita às cascatas argentinas, uma vez que já tinhamos um voo comprado para Salta. Mais para a tarde, lá arranjámos algumas forças e fomos de autocarro até Puerto Iguazu, na Argentina, onde iamos apanhar o nosso voo.
Fomos dormir cedo, e na madrugada do dia seguinte lá voámos mais um bocadinho para seguir as nossas aventuras.
Beijinhos beijinhos, e até à próxima!

"Da janela vê-se o Corcovado"


16 a 21 de Agosto
Depois de já alguns quilómetros na bagagem, eis que chegamos à última parada na nossa subida pela costa brasileira, e também a um dos destinos mais aguardados, Rio de Janeiro! A opinião das pessoas que conhecemos até então, era praticamente unânime no que tocava ao Rio, "é uma cidade linda que vão adorar, mas fiquem espertos!". É, parece que na opinião dos brasileiros o Rio é tão bonito quanto perigoso, portanto, estávamos tão curiosos como cautelosos. O hostel onde ficámos era barato, sujo, desorganizado, mas com um ambiente amigável e situado numa zona privilegiada da cidade, à direita a praia de Copacabana e à esquerda a de Ipanema, ambas a 3 minutos a pé. Foram 5 dias bastante activos, as manhãs passadas na praia, as tardes a explorar a cidade, e as noites dedicadas ao samba e às caipirinhas. Na primeira noite andámos 30 minutos pela praia de Copacabana até encontrarmos um bar aberto. Todas as pessoas estavam bem vestidas e arranjadas, dava ares até de ser uma festa elitista, onde nos sentimos um pouco intrusos pelas roupas demasiado descontraídas que tínhamos vestidas. Alguns segundos depois percebi que estávamos num bar de prostitutas, mas a Carolina pensava apenas que fazia parte da cultura local as mulheres arranjarem-se tanto. Claro que depois de 40 minutos de conversa com uma das meninas, a falar sobre tudo e mais alguma coisa, as dúvidas da Carolina dissiparam-se todas. Bela noite de boas vindas!
Não perdemos tempo, no dia seguinte fomos ao Cristo Redentor. Um mau planeamento de tempo fez com que chegássemos ao topo do Corcovado já ao anoitecer, e não pudémos disfrutar da vista diurna. Contudo, não deixava de ser lindo demais. Dá a sensação de estarmos no topo do mundo, ficámos a contemplar a vista até à hora de fechar, maravilhoso! De noite fomos a uma discoteca aconselhada pelo staff do hostel. Durante o tempo de espera na fila os empregados iam trazendo bandejas cheias de caipirinhas, provavelmente seria uma boa prática a adoptar pelo staff do Jamaica!Um facto curioso, para entrar tivemos de fornecer os nossos dados, que foram introduzidos num computador. Lá dentro tocava um grupo de samba, estava ao rubro!
Depois de algumas horas na cama, acordámos para disfrutar ainda da praia antes de nos dirigirmos para o centro histórico. Subimos no bondinho de Santa Teresa e depois caminhámos até à Lapa. Durante o caminho conhecemos um casal de brasileiros que nos levaram a provar uma receita especial de milho e com quem passeámos até à noite. Até nos convidaram para ir a uma discoteca perto de sua casa, mas devido à distância decidimos ficar noutra próximo do nosso hostel.
As Favelas
No nosso quarto dia comprámos uma tour para visitar a favela Rocinha, a maior da América Latina. Nesta manhã, o guia falou-nos sobre a história das favelas, como é que surgiram, assim como as suas regras e modo de vida. Apesar de nos ter ajudado a perceber a realidade que lá se vive, sentimos que não tinhamos estado no coração da favela, e que havia muito que tinha ficado por ver e saber.


Da parte da tarde subimos até ao morro dos Dois Irmãos, onde havia uma passagem para a favela Chácara do Céu, que o polícia que encontrámos uns metros atrás nos aconselhou a não atravessar. Contudo a curiosidade foi maior, e com muito cuidado e respeito, lá fomos perguntando aos moradores se era seguro andar por lá, ao que todos responderam que sim, fazendo-nos sentir bem-vindos ao seu "bairro". Todos falavam muito orgulhosamente do campo de futebol que tinha sido construído há pouco tempo. Durante a tour da manhã o guia clarificou-nos que para tirar fotos nas favelas convem conhecê-las bem, para sabermos onde podemos, e não podemos tirar. Visto que ali todos os moradores nos tinham dito que não havia problema em fotografar, quando saímos da Chácara do Céu, tirei uma foto ampla à favela vista de baixo. Longe de mim imaginar que a foto apanharia 4 rapazinhos armados. Assim que o flash acabou de disparar ouço-os a orderarem-me severamente que não saísse dali. Congelámos os dois, enquanto um deles desceu rapidamente as escadas e me tirou a máquina da mão. À medida que ia subindo as escadas disse que a máquina era minha, e que só ia apagar a foto. Passados uns dois minutos eles ainda não tinham conseguido apagar a foto e chamaram-me para ir lá acima apagar. Novamente veio a sensação de "vida a andar para trás". Enquanto a Carolina ficou cá em baixo, houve um senhor que lhe disse que os rapazes não me iam fazer nada, que apenas queriam apagar a foto. No entanto, quando lá chego acima vejo um deles a carregar a arma, enquanto outro me passa a máquina para a mão. Disseram-me que podia ficar calmo, que não se ia passar nada. Depois de apagar a foto à frente deles e de lhes mostrar que não tinha tirado mais nenhuma,  deixaram-me descer. É, tirar foto em favela a pessoas armadas é por a pata na poça, eles pensam que se tratam de jornalistas.
Depois de nos recompormos, descemos até uma praia bem bonita que ali havia, e aí ficámos durante uma hora deitados na areia. Mais calmos, e reconhecendo que o erro que originou o incidente anterior foi nosso, decidimos dirigir-nos à favela Vidigal, situada ali perto. Aqui sim, pudemos apreciar com mais calma o ambiente que se vive numa favela, embora não generalizando, pois nem todas são tão calmas quanto esta. Desde o ponto mais baixo até ao mais alto existe uma estrada principal, onde o meio de transporte mais frequente são umas motos que custam muito pouco, e que os residentes apanham diariamente para se deslocarem na favela. Os motoqueiros perguntaram se queríamos subir de mota, mas como sempre, optámos por subir caminhando. À medida que íamos subindo notávamos que as pessoas nos olhavam com um ar diferente, não de desdém, mas talvez surpreendidas por verem duas pessoas de fora a passearem por ali. Mais uma vez fomos perguntando aos moradores se não havia problemas em andar ali, e se era seguro continuar a subir, ao que todos nos responderam muito simpaticamente que sim. Tenho de admitir, as favelas não são bem aquilo que pensávamos, e que provavelmente mais pessoas pensam. Nas favelas também há supermercados grandes (e felizmente bem mais baratos do que os da zona onde estávamos, aproveitámos para comprar alguma comida), há lojas de internet, cafés, bares, e ao contrário do que se pensa, a maior parte das pessoas não está ligada ao negócio da droga. Quando finalmente chegámos ao topo, já ao anoitecer, estávamos parados a admirar a paisagem que os residentes do topo dispõem, à esquerda o morro dos Dois Irmãos e em frente a praia de Ipanema, quando um senhor perguntou se queríamos subir para o segundo andar da casa dele, onde a vista era bem mais ampla.
Subimos a escada de madeira que ele nos estendeu e cumprimentámo-lo. Estava de calções e espátula na mão, a trabalhar com cimento. Ele próprio tinha construído o andar de baixo e estava agora a ampliar a casa, fazendo um segundo andar. Devia ser o morador com a vista mais previligiada da favela, via-se realmente tudo, até os moços que estavam ligeiramente mais abaixo com metralhadoras, cuja função é vigiarem se vem alguma rusga da polícia. Depois de alguns minutos à conversa com o senhor Marcos, ficámos a saber que ele trabalhava num ginásio em Ipanema, que as casas ali estão isentas de impostos e que a polícia vem semanalmente receber o dinheiro para avisar quando vêm rusgas. Depois de nos despedirmos, começámos a descer, mas agora por outro caminho, que foi dar justamente ao lugar onde estavam os rapazes que vigiavam a favela. Era um bar, que tinha sido comprado por um estrangeiro. O rapaz do bar perguntou-nos se queríamos sentar-nos um pouco na esplanada, ao que respondemos, depois de hesitar um pouco, pensando nos miúdos que estavam a dois metros com metralhadoras, que sim. Já se nos tinha acabado o dinheiro, pelo que tivemos que regressar a pé para o hostel, cerca de uma hora e meia a reflectir sobre tudo o que se tinha passado neste dia. Depois de chegarmos e comermos, a Carolina foi descansar um pouco, para depois irmos sair. Entretanto, fiquei a falar com algumas pessoas que estavam no hostel, sobre o dia que tínhamos passado, e tudo mais. A conversa estendeu-se por toda a noite, e portanto, não fui acordar a Carolina, ficámos pelo hostel nessa noite.
Último dia no Rio. Para este dia, estava planeado ambos subirmos o morro Pão de Açúcar, eu ia fazer escalada e a Carolina ia de teleférico. Nessa tarde separámo-nos. Eu acabei por me perder do rapaz que vinha comigo fazer a escalada e acabei por fazer uma caminhada num parque lá perto. Cheguei ao hostel por volta das 19h00 e a Carolina ainda não tinha chegado. Quando finalmente chegou, digiriu-se a mim e deu-me um abraço, algo parecia ter-se passado. Depois de 4 dias, 4 noites, caminhando tranquilos nas ruas do Rio de Janeiro, sem qualquer indício de perigo, eis que no nosso quinto e último dia, a Carolina foi assaltada em plena praia de Copacabana, supostamente uma das zonas seguras da cidade, às 15h da tarde, por dois miúdos, que lhe fizeram dois cortes acima da sobrancelha, com um bocado de vidro. Levaram 50 reais. A imagem que se começava a criar de que afinal o Rio não era "assim tão perigoso como dizem" desvaneceu-se um bocado. De noite fomos sair para a Lapa, mas umas salsichas estragadas ingeridas ao almoço, acabaram por nos estragar a nossa última noite no Rio... voltámos para o hostel, onde passei o resto da noite com vómitos e etc. Esta foi uma das fortes, de manhã estava completamente fraco, quase incapaz de andar, pois tudo o que comia era imediadamente expulso pelo estômago, apenas ganhei coragem para me levantar porque tínhamos um vôo comprado. Chamámos um táxi para o aeroporto, e com algum custo, lá chegámos, com a Carolina a carregar ambas as malas e eu quase a rastejar. Não foi a despedida que idealizámos desta magnífica cidade, que nos deixou marcas e um enorme desejo de regresso, mas nem tudo é perfeito!




Fim de semana em São Paulo


14 e 15 de Agosto



Chegámos a S. Paulo de carro, com a Roberta e o Eduardo, onde nos aguardava um fim-de-semana recheado de descobertas e bom feeling! Logo à partida, percebemos que o trânsito é caótico, e que as regras todas que seguimos em Portugal, aqui são meros formalismos. Para abrir o apetite, visitámos o centro, onde conhecemos a praça Anchieta na qual S. Paulo foi fundada. Passada 1h de passeio, podíamos jurar que estávamos em Nova Iorque! Esta é a cidade mais rica do país, coberta de arranha-céus modernos, avenidas largas e onde existe gente de todas as etnias. Com a chegada da hora de almoço, dirigimo-nos ao bairro japonês onde comemos um prato maravilhoso de sushi. O Vitor tirou tanta comida que acabou por deixar imenso no prato!
Continuámos o nosso passeio à tarde, onde visitámos o parque da independência. Como o nome indica, foi lá proclamada a independência do Brasil, por D. Pedro. Foi bom fugir de todo o transito e poluição, enquanto desfrutávamos de um local verde e muito agradável. Em conversa com o Edu e a Rô acabámos por descobrir que S. Paulo é a cidade com mais tráfego de helicópteros do mundo, e que este é o meio de transporte que muitos empresários utilizam para chegar ao local de trabalho. Tendo em conta toda a extensão da cidade, os 10 milhões de habitantes e a fraca cobertura da rede de metro, é fácil compreender que o trânsito seja tão impossível.
Pela noite fomos ao bairro italiano, onde estava a decorrer uma grande festa religiosa! Toda a gente andava na rua ao som de música italiana, e descobrimos um restaurante maravilhoso para jantar, na companhia do pai da Roberta que se juntou a nós. Foi uma noite bastante animada!
Depois do merecido descanso, almoçámos com o Edu, a Roberta e a família, uma vez que era o dia do pai. Após as despedidas, que muito nos custaram, passeámos o resto da tarde pelo parque de Ibirapuera, que é gigantesco e alberga vários centros culturais. De noite, apanhámos o autocarro que nos levaria a uma das cidades que mais tinhamos curiosidade de visitar: O Rio!

O reencontro


Santos
9 a 13 de Agosto de 2011
Antes de chegar o dia 9 de Agosto, eu já tinha sonhado com ele vezes e vezes sem conta. Em Santos, iamos encontrar a Rô, o Edu e a Tânia, que viveram comigo em Portugal durante quase 2 anos! De modo que quando o autocarro chegou a Santos, depois de uma noite de viajem, eu tinha o coração a bater muito rápido com a expectativa, e o Vitor tinha os ouvidos já cheios das aventuras que vivemos quando eles ainda estavam em Lisboa.
Com a morada deles na mão, percorremos ainda alguns quilómetros a pé até chegarmos à porta do prédio (maldito taxista que nos disse que era perto!). A alegria não podia ter sido maior. Depois de muitos abraços e lágrimas, tomámos o pequeno-almoço que a Rô nos preparou, e até chegar a hora de almoçar houve tempo para uma banhoca e para começar a pôr a conversa em dia. Percebemos imediatamente que seria impossível ficar apenas três dias, como tinhamos planeado, e decidimos ficar mais tempo. Ao almoço pude voltar a comer a maravilhosa comida da Rô, com a qual me deliciei. Foi aí que chegou a Tânia e senti a alegria de mais um reencontro! Mais tarde fomos descansar um pouco, até a Rô voltar de uma audiência de trabalho. Nesse dia passeámos a pé por Santos, especialmente pela praia que já tinhamos podido ver da janela da casa do Edu e da Rô. A Rô foi a melhor guia turística de sempre, e com ela aprendemos que Santos é uma ilha, onde se encontra o maior porto da América do Sul. Foi lá também que nasceu o Surf no Brasil, e o desporto é uma constante em toda a cidade. Nessa noite, provámos uma das refeições que mais recordamos desta viagem: pastel e caldo de cana! O pastel é uma espécie de rectângulo de massa quente, recheado com o que se queira, e o caldo de cana é feito a partir das canas de açúcar espremidas... Divinal.




Os dias seguintes foram recheados de experiências únicas e inesquecíveis! Fomos a S. Vicente, mesmo ao lado de Santos, onde conhecemos o lugar exacto onde os portugueses desembarcaram para colonizar o Brasil. Depois de tantos anos a falar dos Descobrimentos, foi engraçado visitar estes lugares históricos. Em S. Vicente visitámos ainda o miradouro do arquitecto Oscar Niemeyer, que desenhou Brasília, e desfrutámos de uma vista maravilhosa, ainda com o gostinho do brigadeiro e bolo de côco que comemos pelo caminho, oferecidos pela mãe da Roberta. Mas as iguarias ainda não tinham acabado! De volta a Santos, fomos buscar o Edu e provámos Esfihas, umas pizzas em miniatura que nos deixaram de barriguinha cheia até ao dia seguinte. Acordámos cedo para visitar o centro histórico de Santos, onde andámos de bondinho e subimos mais de 400 degraus até ao topo de um morro onde se podia ver toda a cidade. Andámos também de catraia, uns barcos que os locais utilizam para se deslocar para o trabalho, foi bom poder experimentar a vida real das pessoas que vivem em Santos, e não apenas a vida turística. Pela noitinha, fomos assistir a um concerto de samba rock, onde pudemos conhecer mais música brasileira, e ouvir este estilo do qual tanta gente nos falava e que parece estar muito em voga pelo Brasil. Ficámos com pena de não conseguir encontrar nenhuma casa de bossa nova, mas pelo que percebemos, é um estilo musical de "velhos" e que não é fácil encontrar.
Até partirmos para São Paulo, onde estamos agora, houve ainda tempo para uma manhã na praia, onde as ondas e a água muito quente nos encantaram! Passámos também um fim de tarde a tocar guitarra e a cantar todos juntos, mostrando música portuguesa e brasileira uns aos outros. O Edu e a Roberta ajudaram-nos ainda a pesquisar em companhias brasileiras, vôos do Rio de Janeiro para a Foz do Iguazu, que de autocarro demoraria 22 horas. Concluímos que o preço do autocarro e do voo era o mesmo, pelo que optámos por comprar o voo. Numa tarde de coragem subimos de teleférico a um monte que descemos de parapente! Foi uma actividade muito bonita e nada radical, que nos permitiu apreciar a paisagem lindíssma de Santos e S. Vicente.  Experimentámos pão de queijo, açaí e pizza brasileira, que se juntam à lista dos petiscos deliciosos que os nossos amigos nos deram a provar, e passeámos à noite pelo centro histórico, onde escutámos mais música ao vivo e bebemos umas caipirinhas deliciosas. Felizmente, conseguimos convencer a Rô e o Edu a vir connosco passar o fim de semana a S. Paulo, e assim adiar a despedida por mais uns dias! Da Tânia tivemos que nos despedir ontem, com muita tristeza mas com a promessa de um reencontro breve em Portugal.
Até voltarmos para contar a nossa estadia em S. Paulo, deixamos um grande beijinho! Até já!

Florianópolis


6 a 8 de Agosto
Um encanto! Tínhamos planeado ficar apenas dois dias, mas assim que chegámos à Lagoa da Conceição, percebemos rapidamente que dois dias não seriam suficientes para disfrutar deste paraíso. A melhor época para vir a Florianópolis é mesmo no Verão, pois nesta altura as temperaturas ainda são um pouco baixas, e chove muito. Felizmente tivemos a sorte de sermos recebidos com um lindo dia de sol. A lagoa confere a este lugar uma beleza muito própria, podemos parar e ficar simplesmente a olhar. Caminhámos toda a tarde, pela lagoa, pelas dunas, onde havia pessoas a praticarem sandboarding, e donde se podia disfrutar de uma bela vista para a praia. Quando regressámos ao hostel, a expressão "o mundo é pequeno" veio-me à cabeça. Nesse mesmo hostel estão hospedados colegas meus do ISCTE! É verdade, escolheram Florianópolis para fazerem intercâmbio durante um semestre (a propósito, excelente escolha), e estão temporiariamente no hostel enquanto não encontram casa. Depois de colocarmos a conversa em dia, jantarmos, e convencermos um colombiano que não planeava sair nessa noite, a ajudar-nos a beber a nossa garrafa de cachaça e a sair connosco, dirigimo-nos para a festa de intercâmbio! Lá a Carolina encontrou também umas amigas das Caldas da Rainha. Foi uma noite de festa e muito divertimento! No dia seguinte tivemos de ir ao centro comprar os bilhetes para Santos, e ficámos por lá a passear. Nesta pequena viagem de autocarro deu para começar a perceber que a condução aqui é um pouco diferente, se tivesse de escolher um adjectivo seria, agressiva! Depois de uma tarde a passear pela cidade à procura de algo bonito, concluimos que o interessante de Florianópolis está mesmo na outra parte, e que esta foi quase uma tarde perdida.

No terceiro dia e último dia, o qual tínhamos pensado acordar cedinho para ir conhecer o sul da ewfwef, acordámos com trovoada e uma descarga monumental de água. Pouca sorte. Passámos o dia no hostel e num café a fazer tempo até à hora do autocarro para Santos. Mais uma grande viajem ao longo da costa brasileira nos aguarda, cá vamos nós outra vez!

Chegada ao Brasil


4 e 5 de Agosto

Tal como idealizámos, as grandes viagens seriam feitas, sempre que possível, pela noite, de modo a economizar a respectiva dormida. Esta foi a primeira grande viagem por terra, cerca de 12 horas de Punta del Este a Porto Alegre, com direito a duas refeições e tudo. Descemos o autocarro, com os olhos ainda meio fechados, e as pessoas voltaram a falar um dialecto familiar. Olá Brasil! Que saudades de ouvir falar a nossa língua!
Acabados de chegar ao terminal, há algumas tarefas a realizar, mais ou menos por esta ordem. Encontrar uma casa de banho (banheiro) para lavar os dentes e tudo o mais, uma casa de câmbio, uma loja de internet, para procurar e reservar o hostel mais barato da cidade, saber os horários e preços dos autocarros (ônibus) para Florianópolis, e finalmente, ir ao posto de turismo buscar um mapa da cidade. Rimo-nos muito quando perguntámos a uma rapariga (moça) o que havia de interessante para se visitar na cidade, e ela nos respondeu  “tem o shopping”.

Tudo tratado, apanhámos o autocarro para o hostel, onde nos aguardava um staff bastante hospitaleiro, e um pequeno-almoço (café da manhã) delicioso.
Varremos as ruas de Porto Alegre numa tarde. Não é uma cidade muito diferente das europeias, excepto a elevada densidade populacional, é incrível observar tanto movimento. No entanto, das 19h para as 20h parece que se dá algum tipo de fenómeno, pois as ruas ficam desertas, deve ser para ver a novela. Estávamos hospedados a duas ruas da zona dos bares, à noite fomos beber um copo. À semelhança da Argentina, a cerveja continua a ser suminho, vamos ter mesmo de nos começar a dedicar às caipirinhas. Um aspecto curioso é que se pagava para entrar em quase todos os bares, com os preços discriminados, uma parte para a banda e outra para a casa. Acabámos por entrar num bar de jazz, onde estava a tocar uma banda cujos membros não deviam ultrapassar os 20 anos, mas que tocavam muito bem!


Hoje dormimos até tarde e passeámos muito calmamente pela zona verde da cidade. Para despedida, observámos o sol a por-se no lago Guaíba. Vamos agora apanhar um táxi e seguir para Florianópolis!

3 dias no Uruguai


1 de Agosto
A entrada no Uruguai foi em grande, o filme escolhido para a viagem foi o Into the Wild, que nos fez reflectir bastante, e que ainda hoje nos continua a marcar.

Chegámos então a Colónia Sacramento, uma antiga colónia portuguesa, a única no continente sul americano que não se situa no Brasil. É uma província muito pequena, que é possível conhecer apenas num dia. Parece um pouco parada no tempo, as ruas desertas, os carros e as casas muito antigos. Aqui disfrutámos de um passeio a pé pelas ruinas portuguesas, e outro de bicicleta ao longo da linha da costa. Contudo, o que mais nos marcou em Colónia foi o casal de irlandeses que conhecemos no hostel, e que estavam a viajar há um ano pelo mundo. Este foi o nosso primeiro contacto com viajantes de longo curso. Ficámos fascinados, perplexos a ouvir durante toda a noite as histórias que tinham para contar. Desiludidos com a vida em Dublin, resolveram vender carro, casa e afins, compraram voo para Hong Kong e começaram a aventura pela Ásia. Curiosamente o percurso que fizeram na América do Sul era idêntico ao que estávamos a pensar fazer, apenas por ordem inversa, o que nos permitiu adicionar à nossa lista bastante informação sobre lugares de interesse. Apesar de estarmos apenas no início da nossa viagem, já circulava cá dentro o desejo de fazer mais viagens no futuro, de maior duração. Nesta noite, percebemos que isso era real, que havia mais pessoas no mundo a pensar como nós! Esta foi uma noite em que sonhámos. Desde logo começámos a planear novas viagens, imaginar novas rotas, e prometemos que no máximo, daí a 5 anos faríamos uma viagem sem regresso.
Depois de uma viagem de uma hora, chegámos à capital, Montevideo. À semelhança de Buenos Aires, as pessoas continuam bastante simpáticas, a meterem-se connosco no autocarro e a darem-nos todo o tipo de indicações que necessitávamos. Depois de pousarmos as malas e cambiarmos alguns euros, demos um passeio pelo centro histórico, seguido por um jantar no mercado, que carne deliciosa! À noite andámos durante quase duas horas à procura de um lugar para beber um copo, mas ninguém nos soube indicar, não achámos isto normal para uma capital. Um aspecto que nos meteu confusão nesta cidade foi a quantidade de lixo nas ruas, chega mesmo a ser um absurdo! Os preços não são os mais baratos deste continente, pois grande parte dos produtos é importada, prova disto, foi uma carteira de medicamentos para a dor de estômago que tivemos de comprar, custou 12 euros e o formato de venda era muito diferente do europeu, não vinha sequer numa caixa com uma bula, era somente a carteira embrulhada em papel de mercearia! Estavam planeados dois dias para Montevideo, contudo, decidimos que um dia bastava e seguimos caminho.
Além das informações do casal irlandês, conhecemos há uns dias em Buenos Aires algumas pessoas que nos indicaram lugares bonitos para se visitar, e um deles foi Punta del Este, estância turística no Uruguai, conhecida pelas suas bonitas praias, que não fazia parte do nosso roteiro. Para nosso azar, aguardava-nos um dia feio de chuva numa linda cidade de praia. Apercebemo-nos que não há muito a fazer aqui, e portanto, comprámos os bilhetes para o próximo destino. Me aguarda Brasil!!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Buenos Aires


27 de Julho
Quando finalmente o Vítor percebeu que não estávamos mais em Lisboa, deu um salto da cama e foi a correr para o banho. Foi um óptimo primeiro dia, em que percorremos as ruas de Buenos Aires sem qualquer destino, coisa que eu adoro fazer para sentir os cheiros, ver as pessoas e as luzes das cidades que ainda não conheço. Desde logo percebemos que Buenos Aires é um lugar de contrastes, onde se vê todo o tipo de gentes e culturas, onde as arquitecturas antigas se misturam com grandes painéis virtuais de publicidade e onde muitas ruas têm cerca de seis faixas de trânsito em cada sentido! Deliciámo-nos também com a simpatia de todos os que encontrámos, e concluímos que, por certo, tínhamos chegado à terra da boa-fé. Na noite de hoje conhecemos ainda dois compositores novos, no Teatro Colón. Seguindo as pistas que o meu pai me deu, reservei ainda em Portugal dois bilhetes e resolvi fazer a surpresa de aniversário ao Vítor. O teatro é magnífico, com seis andares de camarotes de veludo vermelho e madeira dourada. Depois de mais um passeio regressamos ao nosso hostel, marcados por um sentimento de êxtase e entusiasmo. Afinal de contas, estamos do outro lado do Oceano, a dormir numa cidade fantástica da qual ainda tanto temos para conhecer. Nem parece real.
               


1 de Agosto


Conhecemos a cidade de Buenos Aires da melhor maneira que se pode conhecer qualquer lugar, caminhando. Partindo do bairro de San Telmo, e seguindo o mapa, visitámos tanto zonas pobres como o bairro La Boca, onde as casas são coloridas e onde o comércio de rua abunda, como zonas ricas, das quais é um exemplo Puerto Madero onde podemos disfrutar da bela paisagem dos altos edifícios reflectidos na água da marina, ambas de igual encanto. Nesta última tivemos a oportunidade de saborear uma carne deliciosa no restaurante Sorrento, recomendado pelo pai da Carolina. Passados uns dias, apercebo-me de uma falha nos preparativos para esta viagem, curso básico de espanhol! É verdade, pensei que seria mais fácil. De cada frase entendo vinte por cento do que as pessoas dizem, o que vale é que a Carolina entende o suficiente para nos desenrascarmos! Enfim, isto há-de melhorar…
               

Como na maioria dos países que passaram por este tipo de regime, a ditadura na Argentina deixou marcas. Marcas essas que o povo ainda hoje faz questão de não esquecer. Todos os Domingos as mães dos 30 000 desaparecidos juntam-se na Plaza de Mayo para chorarem a perda dos seus filhos. Está em construção um museu sobre a ditadura no local de uma antiga prisão, onde muitas pessoas desapareceram.
                Finalmente, o que mais nos encantou em Buenos Aires, o tango. É algo mágico, indiscritível, tem que ser visto com os próprios olhos. Nunca havemos de esquecer a noite em que fomos à milonga “A Catedral”, onde todas as pessoas, desde velhos a novos, se levantavam das cadeiras para dançarem o tango, ao som da banda. Fenomenal, como é possível existir tanta telepatia, uma troca de pernas e um encaixe tão perfeito? Está-lhes no sangue! É incrível que uma dança possa transmitir tanta sedução e respeito ao mesmo tempo. É possível sentir a tensão que se cria, e que de seguida se alivia, uma mistura de amargo e doce, tão nítido que quase conseguimos imaginar uma história.


Algumas curiosidades. Na Argentina o Ensino Superior público não é pago, os transportes públicos são financiados pelo estado e por isso bastante baratos (1 viagem de metro custa 20 cêntimos). Num Sábado véspera de eleições em que fomos sair à noite, a zona de Palermo, supostamente com vida nocturna activa, estava praticamente morta. Isto porque o dia seguinte era de eleições e assim sendo a vende de álcool é proibida.
Despedimo-nos de Buenos Aires com um passeio pela bonita zona verde da Recoleta. Das 15 viagens de metro que comprámos apenas utilizámos 6, deixámos as restantes para o staff do nosso hostel. Rumámos então ao terminal do BuqueBus, para fazer a nossa primeira viagem no continente sul americano, que por sinal, seria uma travessia ao rio Plata, rumo ao Uruguai, Colónia Sacramento.





Descolagem


26 de Julho de 2011
A nossa viagem começou hoje! Depois das despedidas no aeroporto de Lisboa, apanhámos o avião para Madrid, onde uma surpresa particularmente inesperada nos aguardava. Depois de muitas filas e da ajuda de uma senhora brasileira, descobrimos que o voo para Buenos Aires tinha sido adiado, mas que teríamos direito a estadia, refeições e transportes até ao dia seguinte. Mas a melhor parte ainda não tinha chegado: recebemos uma indemnização de 600 € cada um! Nunca tinha sabido tão bem ter um voo cancelado!
Chegámos já tarde ao hotel em Madrid, onde aproveitámos para jantar e conhecer várias pessoas que vivem em Buenos Aires e nos foram dando imensas dicas e conselhos sobre a cidade!
Na manhã seguinte fomos passear por Madrid, no parque del retiro. É uma área enorme, com muita vegetação, estátuas, músicos, e até um lago com barquinhos onde podíamos andar.
O resto do dia foi ocupado com a deslocação para o aeroporto e o voo para Buenos Aires. Foram quase 12h, muito demoradas por sinal. Aproveitámos para ver dois filmes e para descansar um pouco, apesar da falta de posição já ser uma constante passadas algumas horas.
Chegámos a Buenos Aires por volta das 6h da manhã, e apanhámos um autocarro e um táxi até conseguir chegar ao hostel onde vamos ficar. É um edifício todo catita, situado no bairro do tango, San Telmo, pensado para jovens como nós, que não têm dinheiro mas se querem divertir à grande (:
Vou agora tentar tirar o Vitor da cama, para irmos explorar a cidade!

Um beijinho

Adeus


Penso que foi na semana antes da partida, que toda a família e amigos se aperceberam que eu ia estar mesmo fora durante dois meses, pois o tema de conversa era maioritariamente um, a viagem! E assim foi, a última semana em Portugal foi passada única e exclusivamente na companhia da família e amigos. Fiz tudo para não falhar nenhuma refeição em família (penso que consegui) assim como os respectivos cafés pós-refeição. Curiosamente o meu aniversário calhou nessa mesma semana, o que serviu de um belo pretexto para juntar as pessoas mais queridas, e poder dar a todos um forte abraço de despedida. No Sábado seguinte ainda combinei uma noite de copos, a despedida oficial do Bairro Alto!
O aeroporto, o momento em que cai a ficha. O último contacto com pais, irmãos e amigos. Adeus e até logo.

Vitor


O Telmo e a Joana tinham medo que eu não voltasse, e para as pessoas especiais o tempo à distância passa mais devagar. Então passámos todo o tempo juntos que conseguimos, na semana que antecedeu a viagem. Eles até ficaram de nariz torcido quando eu fui a Lisboa, para os anos do Vitor, mas compreenderam =). No dia 24 foram as despedidas da família, e da casa nas Caldas: abraçar bem o pai e a avó e prometer muitos mails a contar as novidades todas. Curiosamente, lembro-me do meu pai dizer também que conhecia bem a América do Sul, e que achava que eu não ia voltar. Eu ri-me, com a inocência de quem achava que não voltar era coisa de gente doida. Dia 25 o Telmo e a Joana foram comigo para Lisboa, no Pegeot prateado em que já vivemos tantas aventuras. Foi um dia maravilhoso, que culminou no Bairro Alto. Não me vou esquecer de muitas das coisas que me disseram nessa noite, obrigada a todos por terem ido. No dia seguinte almoçámos com o Zulu no restaurante Japonês, e o meu padrinho juntou-se a nós no aeroporto para um último abraço. Muita gente me pediu para tomar bem conta do Vitor… Mesmo antes de partir, a Joana e o Telmo pediram-me que tomasse, também, bem conta de mim. E eu sorri e chorei baixinho, queria tê-los posto no meu bolso.

Carolina

Preparativos II


Começou então, a contagem decrescente. À medida que ia decrescendo o número de dias, ia crescendo o entusiasmo. Nem todos os dias nos lembrávamos da viagem, mas quando nos vinha à cabeça, dava uma “coisa“ cá dentro!
Chegou então o mês de Julho, final dos exames, todas as condições favoráveis para ultimar os preparativos. Era necessário, então, elaborar uma lista de coisas a levar. Achámos por bem não complicar nem desenvolver muito esta parte, e apontar apenas o essencial, pois seriam quase dois meses a carregar com as malas. A lista resumiu-se então a:
-farmácia (paracetamol, ultralevur, imódiun, antibiótico, comprimidos para a malária, anti-gripais, vomidrin, pastilhas para garganta, repelente);
-utensílios de cozinha (panela, frigideira, talheres, pratos, canecas, taças, pano da loiça);
-“estojo de casa-de-banho”;
- papelada (embaixadas e consulados, companhias de autocarros, fotocópias de documentos);
- livros;
-portátil;
-filmes;
- música.
Outros assuntos a tratar foram :
- a consulta do viajante, no Hospital Curry Cabral, onde referimos os países e suas respectivas zonas que iríamos visitar. Com base nisso, foram-nos receitados alguns medicamentos e as vacinas contra a febre amarela (100€), febre tifóide (50€) e Hepatite A (16€). Esta consulta deve ser marcada com alguma antecedência, de preferência um mês antes.
- ir ao banco confirmar que os nossos cartões funcionavam em todos os países, ao que nos responderam afirmativamente, todos têm rede visa. Aconselharam-nos no entanto a levar dois cartões, no casa de algum se perder.
- averiguar também se a rede TMN cobria os locais de destino. Descobrimos que não, e que para casos deste tipo a Vodafone tem muito mais parcerias a nível mundial, pelo que optei por comprar um cartão Vodafone.
Dois dias antes da partida começámos a preparar o mochilão. Muitos foram os telefonemas de 15 segundos a perguntar “tens isto?” “já puseste isto?” “olha, não te esqueças disto”.
                        Mochilão feito, só faltava o mais difícil, a despedida.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Preparativos


Depois de muitos e-mails trocados durante a minha estadia em Paris, com propostas de percursos, meios de transporte e afins, chegou o último dia do ano, que foi curiosamente o primeiro em que a nossa viagem começou a ganhar forma. Antes de irmos ver o Rui Veloso tocar, já tínhamos planeado as sete semanas que íamos passar na América do Sul. Além dos lugares que tínhamos a certeza que íamos visitar, como por exemplo, Buenos Aires, Florianópolis, Santos, Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu, Machu Picchu etc fizemos uma breve pesquisa na net sobre outros lugares interessantes, que possivelmente poderiam fazer parte do nosso roteiro, e estimámos o tempo que passaríamos em cada um. Porém, esta estimativa serviria apenas como um guia, pois na prática sabíamos que os melhores lugares nos seriam indicados pelos nativos que conheceríamos, e que ajustaríamos o tempo conforme quiséssemos. Quanto às datas de ida e regresso, tínhamos alguma flexibilidade, e decidimos adaptar-nos aos dias em que os voos estariam mais baratos. Quanto à estimativa dos custos, a ideia inicial de fazer o percurso com autocaravana foi por água abaixo assim que recebemos um orçamento de 15 mil euros para aluguer durante dois meses. Pesquisámos então os custos dos autocarros em sites de companhias rodoviárias, que daria um total de 370€, assim como os tempos de viagem, de modo a sabermos o tempo que “gastaríamos” apenas em deslocações. Devido ao nosso orçamento apertado e tendo em conta que o estilo de vida no continente sul americano seria ligeiramente mais barato, previmos uma despesa diária de 10 euros para gastos pessoais (comidas e afins), e  12.5€ para dormir. O percurso inicial, que o Vitor inicialmente desenhou a começar na Patagónia e a acabar em Cuba, teve de ser encurtado devido a uma suposta escassez de tempo. O início da viagem mantinha-se na Patagónia, e depois de alguma pesquisa de voos de regresso da Colômbia, Peru e Equador, decidimos que a parada final seria em Quito, por ser o mais barato.
Nos três primeiros meses do ano investigámos quase diariamente os preços dos voos, e apesar de nos custar um pouco, decidimos mudar a nossa ida para Buenos Aires, por ser um destino mais barato que a Patagónia e para podermos fazer uma viagem mais desafogada em termos de tempo. O voo para Buenos Aires custava cerca de 690€ e o de Quito para Lisboa aproximadamente 500€, o que daria um total de 1100€. Juntando os 370€ dos autocarros, 10€ de gastos diários, e 12.5€ de dormidas, o total para os 57 dias seria 2752 €. O único custo real foi o do voo, mais à frente veremos o que correu bem e mal em termos de gastos.
 E assim, quase sem darmos conta, chegou o dia 27 de Abril, no qual comprámos as passagens para a nossa aventura. Eu estava já a cair de sono quando o Vitor me disse que já tínhamos o dinheiro necessário todo reunido na mesma conta para avançar com a compra. É claro que o sono passou logo, e com muito entusiasmo recebemos a confirmação da nossa ida para Buenos Aires a 26 de Julho e do nosso regresso de Quito a 20 de Setembro. Era real, ia mesmo acontecer!         

Agosto, 2008

A Carolina estava de partida para Paris por 6 meses, e para comemorar, fizemos um jantar de despedida. Foi curiosamente a primeira vez que comi japonês e bebi saké, em Alvalade, estava delicioso. Na altura do adeus, à porta do metro de Entrecampos, surgiu como tema de conversa as próximas férias de verão. Eu que já andava com a viagem fisgada e à procura de boa companhia, virei-me para a Carolina e disse “Queres ir à América do Sul?”, ao que ela responde com naturalidade e alegria “ Sim! Até já tinha pensado imensas vezes em ir lá mas nunca tive oportunidade.” Hoje sei que ela na altura não acreditou de facto que isto fosse acontecer, no entanto, quando voltou cá pelo Natal percebeu que isto era mais real do que pensava.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

102 dias


Neste espaço de tempo visitámos nove países no continente sul americano, onde tivemos a oportunidade de conhecer uma grande diversidade de lugares, desde florestas a desertos, praias a vulcões, cidades mais populosas que Portugal e aldeias mais pequenas que o meu querido Bairro de São Jorge, enfrentámos temperaturas desde os -18ºC até aos 40ºC, mergulhámos até 12 metros de profundidade no Pacífico e acampámos a 4300 metros de altura algures nos Andes, gastámos 100 euros numa refeição, como também 3 dólares, dormimos por 10 euros,  por 2 euros, e de graça, dormimos em quartos com 1 e com 24 camas, em terminais de aeroporto, corporações de bombeiros, autocarros e em tendas, já andámos com 1500 euros na mala e já estivemos sem dinheiro, tivemos momentos de pura felicidade e momentos difíceis, vimos dançar tango, samba e salsa, já falámos português, espanhol, francês e inglês, conhecemos pessoas de todo o mundo, gente boa e gente má, andámos de parapente e de bicicleta, viajámos de avião, barco, autocarro, comboio, e a pé. 

Contudo, a história começa bem antes…

            Da minha parte, não foram precisas mais de 4 semanas engravatado, passadas em frente a um computador 8 horas por dia, para perceber que não era aquilo que queria para a minha vida. Quando uma pessoa vive insatisfeita, tem duas escolhas, ou se resigna e se habitua, ou procura caminhos diferentes que a possam levar à realização pessoal, o que muitas vezes implica sair da zona de conforto. Aconteceu comigo, passados 3 meses de primeiro emprego, automaticamente a cabeça começou a procurar caminhos que me preenchessem. Das várias ideias que surgiram, a viagem foi uma delas, apontada de imediato ao continente sul Americano. Não há uma explicação muito racional, creio que foi uma escolha tão espontânea como inconsciente. Agora que penso, talvez a proximidade com a cultura latina tenha sido um factor importante para primeira viagem, assim como o fascínio por toda a música deste continente. Acima de tudo, queria viver algo que nunca antes tinha vivido, algo desconhecido, depender de mim durante 2 meses num continente totalmente estranho, conhecer novas culturas e modos de vida, viver, crescer.

Vitor

                Costumo ser uma pessoa muito complicada, que procura razões, explicações, teorias, possibilidades. No entanto, aqui foi fácil: queria ir, viajar. Queria conhecer, sair do ninho, atirar-me contra o mundo e ver o que mudava cá dentro e o que ficava imóvel. Nunca tinha imaginado a grandeza de tudo o que ia descobrir. 

Carolina

domingo, 16 de outubro de 2011

"Happiness is only real when shared"

Dia 7 de Outubro era o dia do bacalhau com natas. E não era um bacalhau com natas qualquer, foi o bacalhau com o qual sonhámos durante 74 dias. Claro que com o bacalhau vinham os abraços, a família e os amigos à espera no aeroporto, já impacientes após um regresso adiado. Ainda que presos numa dualidade de sentimentos, de querer regressar e simultaneamente lamentar deixar esta vida de descobertas e aventuras, estávamos impacientes também: dia 7 de Outubro era o dia do nosso regresso. Quando dia 7 chegou, a decisão estava tomada. Enquanto o avião cruzava algures o Atlântico, os nossos pés estavam nele mergulhados, numa aldeia muito distante do aeroporto, e do bacalhau com natas.

É verdade, ao longo desta viagem algo foi crescendo dentro de nós. Durante dois meses fora da terra Natal, da zona de conforto, todos os dias são diferentes, é difícil prever o amanhã. A vida deixou de ser uma agenda, uma rotina, uma lista infinita de compromissos. A caixa de um metro quadrado onde vivíamos, ampliou-se para além do que poderíamos pensar. Os dias que antes eram um mar de impossibilidades, transformaram-se num mar de possibilidades, todas as limitações que estão dentro da nossa cabeça são abafadas pelo entusiasmo da descoberta e da novidade constante. Adicionando todas as novas amizades, experiências trocadas e horas de reflexão, foi quase natural decidir que fazia sentido ficar, ao invés de regressar à vida que é suposta. Não acrescentar dias à nossa vida, mas vida aos nossos dias. Trocar o certo pelo incerto.

Que fique bem claro que não temos nenhuma opinião vincada sobre o correcto ou incorrecto a fazer. Não queremos com isto dizer que a vida em Lisboa não nos fazia sentido de todo, mas este sentimento de procura de algo mais não vem de agora, e daí o porquê desta viagem.

Como o título do post menciona, a felicidade só é real quando partilhada, e por isso decidimos fazer este blog, para partilhar algumas das nossas experiências e aventuras, de uma viagem que tem agora, o regresso adiado, indefinidamente.

Carolina e Vitor